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Sabe porque é que o bife de vaca está cada vez mais caro?

Ana Taborda
Ana Taborda 17 de maio de 2025 às 10:00
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As cotações do novilho na Bolsa estão nos 7,02 euros por quilo, quase 30% acima dos números de há um ano. Um aumento que já chegou aos supermercados e restaurantes portugueses.

As últimas cotações da Bolsa do Novilho revelam que esta carne - a mais cara entre as carnes de bovino - está a ser vendida no mercado a 7,02 euros por quilo. No mesmo mês do ano anterior, maio de 2024, este valor não ultrapassava os 5,56 euros por quilo. O que significa que, em apenas um ano, o preço do novilho subiu 26,26%. Mas não é só o novilho que está mais caro - o preço da vaca também aumentou 23,94% e o da vitela subiu 11,74%.

O que explica subidas tão expressivas em apenas um ano? "Nos anos de seca houve um disparo enorme dos custos de produção, com os preços das rações a subirem muito. E esses custos nunca foram refletidos na totalidade no preço da matéria-prima, o que levou muita gente a acabar com o efetivo pecuário, abatendo os animais", defende Gonçalo Albino, administrador da CARNALENTEJANA. "Conheço muitos efetivos de 400 animais que passaram para 100", adiante.

E apesar de já não haver seca, como um novilho precisa de pelo menos um ano, um ano e meio para chegar ao mercado, neste momento há menos animais. Com menos oferta, os preços sobem, explica ainda Gonçalo Albino. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2022 chegaram a existir 1.68 milhões de bovinos em Portugal - já no segundo semestre de 2024, últimos dados disponíveis, eram 1.487, menos 11,5%. No total havia, no ano passado, menos 193 mil animais.

Quem os manteve, diz o administrador da CARNALENTEJANA, teve que subir preços. "Subi mais os preços à distribuição este ano do que subi em 20 anos. O aumento de preços foi efetivamente global. E se as carnes mais caras, como o lombo, sempre foram caras, agora é difícil comprar carne de vaca de segunda a menos de 10, 12 euros o quilo. E aí nota-se mais o aumento", explica. Sobretudo porque a seca e as suas consequências não afetaram apenas Portugal. "A seca atingiu vários países do Sul da Europa", explica.

É isso mesmo que mostram os dados da DECO Proteste. Só entre janeiro e abril deste ano, o preço da carne de novilho para cozer subiu 2,45 euros, o equivalente a um aumento de 23% - em termos de preços, passou de 10,50 euros para 12,95 euros. Entre os 63 produtos do cabaz alimentar da DECO Proteste, a carne de novilho foi aliás o segundo produto cujo preço mais subiu neste período, apenas ultrapassado pelos ovos, que passaram a custar mais 27%.

A carne de vaca não é a única a ter subido muito de preço. "Se o borrego fosse uma carne muito consumida em Portugal, estaríamos a sentir o mesmo. No ano passado, os borregos eram vendidos no campo a 75 euros e era um bom negócio, este ano estavam a 180 euros", explica Gonçalo Albino. 

Além da seca, o borrego foi afetado por uma doença (a da língua azul) e de facto os preços chegaram a subir mais de 40% este ano, revelam dados do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP). Já o preço do cabrito, também muito consumido nos almoços de Páscoa, aumentou 16%.

É que, ao contrário de outros animais, as vacas e os borregos ainda se produzem em pastos, ao ar livre, explica o mesmo responsável. "E, por isso, dependem mais do clima."