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Impresa: MediaforEurope entrará com posição minoritária, Balsemão mantêm o controlo

Bruno Faria Lopes 31 de outubro de 2025 às 14:15

Negócio está muito perto de ser concluído. A família Balsemão manter-se-á para já no controlo da dona da SIC e do Expresso. O gigante MFE, dominado pela família Berlusconi, entra minoritário, mas deverá reforçar mais tarde para assumir o controlo. Operação não envolverá um perdão da dívida bancária.

A multinacional italiana MediaforEurope (MFE), controlada pela família Berlusconi, está muito perto de concretizar a entrada no capital da Impresa, o maior grupo de media em Portugal. A MFE entrará para uma posição minoritária na dona dos canais SIC e do jornal Expresso, segundo informação recolhida pela SÁBADO, com a família Balsemão a manter por agora o controlo. O negócio – que é visto como um primeiro passo no sentido de os italianos virem a controlar a prazo a Impresa – não inclui um perdão direto (haircut) da dívida bancária.
MediaforEurope entra com posição minoritária na Impresa, mas Balsemão mantém o controlo Duarte Roriz e AP
As negociações estão na fase final e é expectável que dentro de dias se conclua a operação. A entrada de um novo sócio da indústria dos media e com capacidade financeira – a MFE faturou 2.950 milhões em 2024 e registou lucros de 138 milhões de euros – será crucial para estabilizar a situação financeira delicada da Impresa. Contactada pela SÁBADO, fonte oficial da Impresa repete o que tem indicado durante o período de negociações: “O Grupo Impresa sempre comunicará ao mercado a existência de informação relevante, nos termos legalmente previstos. Não há qualquer informação relevante que deva ser comunicada”.     A família Balsemão detém atualmente 51,81% dos direitos de voto na Impresa, através da sociedade Impreger e de participações diretas no capital. A empresa está cotada em bolsa. Não é claro como ficará a estrutura acionista final da Impresa após o negócio com a MFE, mas a SÁBADO apurou que não haverá mudança de controlo. A recente morte do fundador, Francisco Pinto Balsemão, não cria dificuldades na concretização formal do acordo pelos herdeiros. Francisco Pedro Balsemão, o filho mais novo de Pinto Balsemão, manter-se-á à partida como administrador executivo. Não são conhecidas, por enquanto, eventuais mudanças noutros lugares da administração. A dívida da Impresa, que no final do primeiro semestre deste ano aumentou para 148 milhões de euros, é a bola de chumbo que pesa nas contas. A SIC e o Expresso são rentáveis do ponto de vista operacional, mas os juros pagos para servir a dívida mais do que engolem todo o lucro operacional. Nas negociações foi sempre claro que não se tocaria no maior credor da Impresa: os investidores que compraram 48 milhões de euros de obrigações (dívida) da companhia. Isto deixou a banca – com o BPI à cabeça – como uma frente importante nas negociações. Em nenhum ponto foi negociado um perdão direto (haircut) de dívida bancária, como noticiou a SÁBADO há duas semanas – este tipo de reestruturação mais agressiva não faz parte do figurino final da operação. O envolvimento da banca será importante para reduzir a pressão nesta frente, com condições de financiamento (prazos, juros) melhores e a eventual substituição da dívida obrigacionista (uma hipótese não confirmada pela SÁBADO). A entrada de um sócio com a robustez financeira da MFE é um fator de acalmia nas relações com a banca, que este ano apertou as contas caucionadas da Impresa (que permitem movimentar verbas sem ter saldo suficiente), pondo uma pressão forte sobre a tesouraria. Apesar da importância do negócio para a Impresa, e consequentemente para os seus credores bancários, a MFE não tinha interesse em entrar de forma agressiva junto do setor financeiro, outro sinal de que a sua presença está pensada para o longo prazo. A MFE entra com a ambição – noticiada em setembro passado no jornal italiano Il Messaggero – de vir a controlar. A compra insere-se numa estratégia de consolidação europeia que o grupo liderado pelo filho do fundador Silvio Berlusconi, Pier Silvio Berlusconi, tem executado. O objetivo é ganhar peso negocial no mercado publicitário, contra as audiências cada vez maiores das empresas norte-americanas de streaming, como a Netflix e o Youtube. Em setembro passado, a MFE completou o reforço de capital na alemã ProSieben, para a qual entrou numa posição minoritária em 2019. Esse negócio avaliou a companhia alemã em 1.800 milhões de euros, segundo a agência Reuters – um valor radicalmente maior do que representará a aposta na Impresa (cuja capitalização bolsista, para dar uma referência, está em 48 milhões de euros). A MFE tem operações em Itália, em Espanha e a recente compra da ProSieben na Alemanha deu-lhe uma presença também na Áustria e na Suíça. Está muito perto de somar Portugal ao seu portfolio.
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