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Gripe: Nova variante é mesmo razão para alarme?
Não, desde que se vacine e recupere aquilo que aprendeu (e provavelmente anda esquecido) sobre a pandemia. Este novo subtipo do H3N2 não está presente na vacina, mas ainda assim esta confere proteção.
Índice
- 1O que é este novo subtipo do vírus?
- 2É normal isto acontecer?
- 3Este subtipo é mais agressivo?
- 4A vacina confere proteção?
- 5O que se pode fazer além da vacina?
O alerta chegou de várias frentes: depois de o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) ter recomendado aos países da União Europeia que acelerassem a vacinação, também Portugal lançou o mesmo apelo. Esta segunda-feira, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, afirmou mesmo que “este ano a gripe vai ser um grande desafio” – e fez a previsão de um inverno “muito duro”.
1O que é este novo subtipo do vírus?
Há dois principais tipos de vírus da gripe que provocam doença nas pessoas: o A e o B. Dentro destes, existem vários subtipos que são classificados segundo umas proteínas que o vírus tem à sua superfície, chamadas hemaglutinina (H) e neuraminidase (N) – daí é que surgem as nomenclaturas H1N1, H3N2, etc. Na prática, o novo subtipo K pertence à estirpe H3N2. “É uma espécie de subvariante dentro de uma estirpe que já era conhecida. O H3N2 não é novo”, esclarece Miguel Castanho, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Surgiu primeiro no Japão e no Reino Unido, e só depois chegou ao Canadá, onde se disseminou rapidamente. Em maio, já havia registos de casos em todos os continentes. Foi o facto de esta variante ter emergido e se disseminado rapidamente, fazendo com que as vagas de gripe chegassem mais cedo a vários países, que levou a que as autoridades tomassem uma posição de alerta e apelassem à vacinação precoce.2É normal isto acontecer?
Sim. “Isto faz parte das variações expectáveis por mutação do vírus que acontecem de época para época. Basicamente, os vírus como têm uma elevada taxa de replicação, também têm uma possibilidade de erros adicionais na sua produção, o que faz com que estatisticamente exista a possibilidade de haver diferenças de ano para ano”, diz Bernardo Gomes. Esses erros podem levar a variantes que não sejam viáveis, mas neste caso foi. O que constitui uma agravante nesta situação é mero fruto do acaso. “É o que chamam de processo estocástico [aleatório]”, diz o médico. Isto pode sempre acontecer mas, desta vez, ocorreu numa altura em que a formulação das vacinas já estava definida – e em que não é possível mudá-la. “O que significa que no hemisfério Sul, na próxima época, este tipo já entrará na formulação mas, para o hemisfério Norte já não dá”, esclarece. A formulação das vacinas começa a ser pensada por volta de fevereiro ou março de cada ano, é nessa altura que se faz uma projeção sobre a evolução do vírus e que se decide a constituição das vacinas que serão distribuídas no inverno. “A previsão que era feita para esta época já apontava que o H3N2 poderia ser dominante e esta estirpe está prevista na vacina”, ressalva Miguel Castanho. O que não se conseguiu prever foi o surgimento desta subvariante.3Este subtipo é mais agressivo?
A resposta é negativa e não é propriamente esse o problema. A grande diferença entre o tipo A e o tipo B do vírus da gripe é o potencial de transmissão. “As estirpes do tipo A têm um potencial pandémico maior. Por isso, é que nos preocupamos sempre mais quando falamos da gripe A. Não é exatamente o que vai causar a cada pessoa, mas o que pode causar na população”, diz Miguel Castanho, que também é investigador do GIMM. Um estudo publicado em 2020 sobre a época gripal de 2017-18 encontrou taxas de mortalidade semelhantes entre os dois tipos de gripe, aos 30 e 90 dias. Contudo, os investigadores observaram que o tipo A está associado a mais casos de pneumonia e de necessidade de ventilação. A investigação foi publicada no European Journal of Clinical Microbiology and Infectious Diseases. Outra questão que pode trazer maior vulnerabilidade é que há pelo menos duas épocas que esta estirpe do vírus não era a dominante. "Portanto, as nossas defesas naturais não estão muito apuradas para o H3N2", diz Miguel Castanho. Quanto a sintomas não há propriamente grandes diferenças na gripe provocada por esta subvariante. São as habituais dores de cabeça, dores musculares, tosse, garganta arranhada ou nariz entupido. Estes sintomas podem é ter uma intensidade maior. “As pessoas descrevem-na como uma gripe muito debilitante, utilizam aquelas expressões típicas do ‘passou-me um autocarro por cima’ ou ‘parece que levei uma sova’”, ilustra o especialista.4A vacina confere proteção?
Sim, e é por isso que não há mesmo razão para alarme. Mas existem algumas nuances nesta resposta. Em primeiro lugar, porque este subtipo tem uma particularidade: as mutações aconteceram no sítio onde se ligam os anticorpos. E porque é que isto é um problema? Miguel Castanho esclarece: “Porque o nosso sistema imunitário gera anticorpos, os anticorpos ligam-se aos vírus e, quando se ligam, ficam à superfície do vírus. Ou seja, não permitem que o vírus interatue com as células. É esse o princípio da ação”, diz. “Portanto, se o vírus mudar nas zonas onde os anticorpos se ligam, os anticorpos podem eventualmente deixar de se ligar, ou seja, deixam de ser ativos. Se os anticorpos vêm de uma vacina isso quer dizer que a vacina passa a ser menos eficiente”, explica o especialista. É por isso que esta mutação pode baixar a eficácia da vacina. Contudo, há dados animadores. No Reino Unido, onde a gripe surgiu mais precocemente, já foram feitos estudos sobre a eficácia da vacina especificamente sobre esta variante. Os resultados demonstraram que a vacina mantém uma alta eficácia em crianças, avança o investigador. “E nos adultos tem um grau de eficácia mais moderado mas, ainda assim, dentro do que é esperado para a vacina da gripe”, tranquiliza. Foi ainda demonstrado que as pessoas vacinadas recorrem menos ao hospital. “Portanto, vale a pena vacinar”, insiste. O especialista destaca ainda que o pensamento em relação à vacina não deve ser individual mas de grupo. “Não é só o risco a que cada um está sujeito, é o risco em que colocamos os outros, porque a vacinação das pessoas que não têm um grande risco tem sobretudo efeito ao nível das transmissões. Se eu não tenho um grande risco, posso pôr em risco os outros”, explica. “A vacinação é uma estratégia coletiva, não é uma estratégia individual”, acrescenta.
Se eu não tenho um grande risco, posso pôr em risco os outros. A vacinação é uma estratégia coletiva, não é uma estratégia individual.
Miguel Castanho, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
5O que se pode fazer além da vacina?
Lembra-se das aprendizagens do tempo da pandemia? É isso mesmo: higiene das mãos (lavá-las com frequência), higiene respiratória (cobrir a boca e o nariz quando tosse ou espirra) e quando se está doente, não interessa com quê, ficar em casa em teletrabalho (se não for preciso pôr baixa) e proteger terceiros. “Eu costumo usar a sigla: vacinar, cuidar e ventilar. Ou seja, a questão da vacinação, a questão do cuidado no sentido de evitarmos que outros fiquem doentes, optando pela máscara se necessário, e por fim, a ventilação. Se houver um ar mais saturado, obviamente que tudo o que sejam agentes respiratórios têm maior facilidade em infetar”, explica Bernardo Gomes. Além disso, também já existe a possibilidade de se testar para a gripe e para a Covid ao mesmo tempo. “A pessoa está com uma dor de cabeça, tossiu várias vezes e não sabe o que é aquilo. Faz um teste”, aconselha Miguel Castanho.Descubra as
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