Um em cada cinco portugueses vão ter cancro da próstata, a doença oncológica mais comum entre os homens. Os números explicam-se pelo embaraço que impede muitos homens de procurar ajuda médica.
Todos os anos 1.800 homens morrem em Portugal vítimas de cancro da próstata. É o tumor mais comum neles e a terceira causa de morte oncológica no País. Uma das razões para estes números é o embaraço que trava os portugueses de irem a consultas de urologia que poderiam detetar a doença de forma precoce.
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Outra razão é semelhança de sintomas entre o tumor e o crescimento da próstata, denominado hiperplasia benigna da próstata, que é normal com o envelhecimento. David Subirá, coordenador de Urologia no Hospital CUF Tejo, explica à SÁBADO de que forma se poderão reduzir os riscos.
O cancro da próstata é o mais comum entre os homens em Portugal?
Sim, em Portugal, como no resto dos países, o cancro da próstata tornou-se o cancro mais comum nos homens. Prevê-se que um em cada 5 ou 6 homens venha a ter cancro da próstata.
Quais os hábitos de estilo de vida que podem ser fatores de risco para o cancro da próstata?
O histórico familiar de cancro da próstata é um fator de risco e a doença também é mais frequente em homens de raça negra. Os hábitos saudáveis, como o exercício físico, uma alimentação saudável sem álcool ou tabaco, embora desejáveis, não estão diretamente relacionados com o desenvolvimento do cancro da próstata.
O urologista David Subirá é coordenador de Urologia no Hospital CUF Tejo
A que sinais se deve estar atento?
Nas fases iniciais do cancro, que é quando deve ser diagnosticado para obter os melhores resultados terapêuticos, não existem sintomas específicos de alerta. Por isso, a vigilância é fundamental e deve ser realizada em consultas periódicas com um especialista em urologia, onde alterações da textura da próstata, identificadas através do toque retal, a determinação do PSA (antígeno prostático específico) no sangue e, eventualmente, uma lesão suspeita na ressonância magnética ou na ecografia da próstata permitem identificar os doentes em que é necessário fazer uma biópsia para confirmar a doença.
Os homens desvalorizam os sintomas urológicos?
É verdade. Olhemos para a especialidade de urologia: esta é uma das especialidades menos procuradas em Portugal - enquanto a ginecologia é a quarta mais procurada. Apesar disso, os homens continuam a avaliar a sua saúde de forma mais positiva do que as mulheres: 55% contra 47%, segundo a Organização Mundial de Saúde. Esta crença infundada de que está "tudo bem com a saúde" leva à negligência da sua própria saúde. O que, por vezes, impede um diagnóstico precoce de uma das doenças mais frequentes nos homens.
Porquê esta desvalorização?
Penso que a timidez ou o embaraço dos homens para marcar uma consulta médica e a insuficiente informação e promoção da saúde masculina estão na origem disso.
Quais as diferenças entre os sintomas do cancro da próstata e a hiperplasia benigna da próstata?
É aí que reside o problema do diagnóstico do cancro: nas fases iniciais não há sintomas específicos, pelo que podem coexistir com os sintomas da hiperplasia benigna da próstata.
Quais são os métodos de diagnóstico inovadores aplicados na deteção da hiperplasia benigna e no cancro da próstata?
Os métodos de diagnóstico mais inovadores dos últimos anos têm sido desenvolvidos de forma a diferenciar o diagnóstico de cancro da próstata das alterações da hiperplasia benigna associada ao envelhecimento masculino. No diagnóstico do cancro da próstata deparamo-nos com inovações importantes para a confirmação de lesões visíveis, nomeadamente, os métodos de imagem radiológica, como a ressonância magnética (RM), a microecografia e a biópsia prostática de fusão. Mais ainda, ao combinarmos a biópsia de fusão com a microecografia, através de uma abordagem via Transperineal, como estamos a desenvolver no Hospital CUF Tejo, conseguimos elevar as vantagens para o doente.
Como funciona o Sistema de Diagnóstico e Biópsia Prostática de Fusão por via Transperineal com Microecografia?
A utilização da microecografia durante a biópsia prostática permite uma maior precisão na identificação de lesões, complementando o estudo por RM. A biópsia realizada através do períneo reduz o risco de infeção ou hemorragia associado à biópsia através do reto e permite também aceder mais facilmente a toda a próstata. Desta forma, temos maior precisão no diagnóstico, menor risco de infeções e complicações, bem como menos desconforto para o doente.
Qual é o prognóstico num diagnóstico de cancro da próstata?
O prognóstico depende da fase em que a doença é diagnosticada. Na fase inicial da doença, que é quando está ainda bem circunscrita, a cura após o tratamento é muito elevada. No entanto, nas fases mais avançadas, o prognóstico piora. Daí a importância de vigiar a saúde da próstata.
Quais os principais receios dos doentes?
No cancro da próstata, além do medo de não ser curado, existem também os efeitos secundários associados ao tratamento, como a incontinência urinária e a impotência sexual, que afetam muito a qualidade de vida dos homens. Estes receios devem ser discutidos com a equipa médica porque já existem tratamentos que permitem minorar estes riscos.
Quais são os tratamentos disponíveis no caso do cancro da próstata?
Existem vários tratamentos que devem ser aplicados em função do estádio do cancro e das necessidades de cada doente. Na fase inicial localizada, dispomos de tratamentos associados à radioterapia (radioterapia externa e braquiterapia) e sobretudo à cirurgia radical.
A cirurgia robótica é um aliado?
Quando feita com experiência e com recurso à robótica, esta cirurgia obtém bons resultados quer em termos de cura da doença quer em termos funcionais, mantendo a continência urinária e a função sexual. É uma cirurgia com maior precisão na preservação do sistema neurovascular responsável por estas funções. Outros tratamentos permitem uma abordagem direcionada sobre a lesão tumoral previamente identificada no diagnóstico que, ao não atuar sobre toda a próstata, permite uma melhor preservação da potência sexual e da continência. São exemplos: A terapia focal HIFU (High-Intensity Focused Ultrasound) e a terapia focal IRE (Irreversible Electroporation).
Há novidades no tratamento da hiperplasia benigna da próstata?
Além do tratamento farmacológico utilizado nas fases iniciais, dispomos de diferentes procedimentos cirúrgicos para o tratamento definitivo dos sintomas associados à obstrução da próstata, devido ao crescimento desta glândula ao longo da vida do homem. A escolha do tipo de tratamento cirúrgico deve ser individualizada, tendo em conta os sintomas, o tamanho da próstata e a vontade do doente. Dispomos de técnicas cirúrgicas, como a Aquablação, que, na maioria dos casos, permite evitar o risco de ejaculação retrógrada, associado à cirurgia. Outra hipótese é a enucleação prostática, com o HoLep tratamos glândulas prostáticas de diferentes tamanhos endoscopicamente, através da uretra. Finalmente, a cirurgia robótica permite-nos tratar próstatas de grandes dimensões com excelentes resultados.
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