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Procura pelo areal perfeito prejudica a vida selvagem nas praias 

Seja em Itália, Grécia ou França o aumento dos turístas está a ter implicações na fauna e flora local. Muitos dos locais pedem que sejam implementados limites.

Nos meses de verão as praias da costa italiana, e de muitos outros países do sul europeu, ficam cheias de turistas logo desde o amanhecer e uma vez que muitas contam com concessões privadas os proprietários das praias tendem a nivelar a areia para evitar qualquer imperfeição. 

Markus C. Hurek/AP

O arrastar de areia pode levar à destruição da vida selvagem que se encontra debaixo dela. A 60 centímetro da superfície encontram-se os delicados ovos depositados por tartarugas-comuns e à medida que a areia vai sendo remexida os seus habitats naturais são transformados em cenários de sessões fotográficas: "A ocupação das praias por proprietário privados reduz um espaço vital para as tartarugas. Ainda não há muita sensibilidade para a coexistência com esta espécie", alerta Salvatore Urso, naturalista e cofundador da Caretta Calabria Conservation, responsável pela monitorização e proteção dos ninhos de tartarugas comuns no sul italiano desde 2005, ao The Guardian

Os tratores que tratam da areia são perigosos para as tartarugas, não apenas porque destroem ou movem os ovos, mas também porque o seu ruído tem a capacidade de assustar as fêmeas e impedi-las de nidificar.  

Com o aumento do turismo na região os ninhos passaram a ser protegidos por um grupo de especialistas e voluntários. Estes grupos monitorizam as praias a pé e com drones para conseguirem localizar os ninhos e depois de o conseguirem colocam cercam a sua área envolvente para que fiquem protegidos.  

Por outro lado, na ilha grega de Naxos a ativista Eleni Andrianopulu considera que as expectativas dos turistas foram moldadas pelas imagens que veem na internet e é isso que procuram quando chegam, mesmo que o ecossistema saia prejudicado: "Nós, as pessoas e o lugar, somos apenas uma decoração". O The Experiences Traveler de 2023, um relatório baseado num inquérito feito a quaro mil viajantes, concluiu que o Instagram já é a plataforma que mais influencia a escolha dos destinos de férias. 

No caso da Grécia o aumento da procura das suas ilhas leva ao aumento da construção o que pode alterar a drenagem do solo e limitar a água doce disponível para os 185 milhões de aves migratórias que por ali passam. De acordo com os dados da WWF as populações dependentes de áreas húmidas no Mediterrâneo diminuíram 81% nos últimos 50 anos.  

Em França o Parque Nacional de Calanques, em Marselha, é um dos mais concorridos depois de ter ficado famosos pelas suas águas azuis para as quais é possível mergulhar a partir dos rochedos. Alguns seus visitantes começaram a caminhar por fora dos trilhos e a estacionarem os carros nas rochas, ameaçando parte da flora do parque que recebe quase três milhões de visitantes por ano. Para tentar alterar a situação as autoridades locais começaram uma campanha no Instagram onde deixaram de mostrar as imagens mais atraentes do parque e passaram a mostrar ações de limpeza realizadas por voluntários ou instruções sobre a forma como se devem comportar: "Queremos mostrar a fragilidade do parque", referiu o diretor de comunicação. Em 2022 as autoridades decidiram mesmo limitar o acesso a algumas partes a 400 visitantes por dia e apesar de já terem conseguido resultados positivos as limitações devem manter-se durante pelo menos mais cinco anos.  

Vários ativistas e cientistas têm alertado para as implicações para o ambiente que o turismo de massas na Europa tem trazido, especialmente agora que estamos cada vez mais próximos da época alta. Muitas vezes trazidos pelas imagens de praias paradisíacas que veem nas redes sociais os turistas do sul europeu representam já um terço de todos os turistas do mundo, ou seja, 330 milhões de pessoas em 2024 e é esperado que cheguem a 500 milhões até 2030. 

Em algumas regiões as preocupações com o meio ambiente misturam-se à indignação com o turismo excessivo e foi assim que surgiu o movimento internacional "Revolta das Toalhas", em 2023, contra a privatização das praias.  

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