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António Damásio: "Se algo separa o mundo da IA da inteligência natural é a presença da vida"

Primeiro, "a natureza dá-nos o dom da mente. E então, algures na evolução da natureza, surge a preocupação em manter essa vida", sublinhou.

O neurocientista português António Damásio considerou esta terça-feira que se há algo que separa o mundo da inteligência artificial (IA) relativamente ao da inteligência natural é precisamente a presença da vida.

António Damásio aborda a separação entre IA e inteligência natural
António Damásio aborda a separação entre IA e inteligência natural Pedro Zenkl/Agência Zero

António Damásio, que é presidente e diretor do Instituto do Cérebro e da Criatividade da Universidade do Sul da Califórnia (Brain and Creativity Institute at the University of Southern California, em inglês), participou esta terça-feira numa conversa com o vice-presidente da Google DeepMind Fernando Pereira sobre inteligência natural versus inteligência artificial no Responsible AI Forum 2025, na Fundação Champalimaud, em Lisboa.

"Penso que, se há algo que separa o mundo da IA do mundo da inteligência natural é exatamente a presença da vida", disse o neurocientista, que apresenta o seu mais recente livro "A Inteligência Natural" na próxima sexta-feira, 28 de novembro, em Lisboa.

"E penso que, quando considero, por exemplo, as razões pelas quais temos algo chamado consciência, isso tem a ver com algo que a natureza, através da vida, tornou a sua principal preocupação", que é proteger a vida, disse Damásio.

Essa é a "razão pela qual somos conscientes, pela qual desenvolvemos esta preocupação com a nossa própria vida e pela qual somos capazes de saber que a nossa mente, por exemplo, está no nosso corpo e que os dois estão juntos", prosseguiu.

Tem a ver com o facto "de a natureza (...) ter desenvolvido uma preocupação em manter a vida que tinha criado", referiu.

Primeiro, "a natureza dá-nos o dom da mente. E então, algures na evolução da natureza, surge a preocupação em manter essa vida", sublinhou.

A razão pela qual "temos consciência é exatamente porque nos preocupamos, ou a natureza se preocupa, em manter a vida, e o truque muito interessante, que é realmente um truque genial, é desenvolver um sistema de alerta", em que quando há algo errado dá sinais como a fome, sede e dor.

"São alertas espontâneos que lhe dizem que algo está errado", referiu. Se as coisas estiverem a correr bem, "então tem autorização para se comportar de forma exploratória".

Ou seja, "são estes sinais que te orientam em relação ao que pode vir no futuro e te guiam de uma forma que te pode permitir ter uma vida melhor", salientou António Damásio.

Estes sentimentos são "sentimentos homeostáticos" porque investigam e indicam o estado da homeostasia no organismo vivo, que é uma resposta à possibilidade de o estado de vida continuar ou algo estar errado e precisar de ser corrigido.

"Isto é homeostase (...) que pode ser transposto até certo ponto para criaturas não vivas", apontou.

"Creio que existe um mecanismo de homeostasia em funcionamento nos sistemas em que és especialista", referiu António Damásio, dirigindo-se a Fernando Pereira.

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