Secções
Entrar

"O disparate de levantar cedíssimo e ir correr é caminho andado para um enfarte"

16 de março de 2018 às 17:05

O presidente da Associação Portuguesa do Sono lamenta que as pessoas achem "que trabalhar é mais importante que dormir".

O maior risco à qualidade do sono "é a falta de respeito que há" por ele em Portugal, alerta a Associação Portuguesa do Sono, considerando que é necessário combater "uma cultura enraizada" na população de dormir pouco e sem regra.

1 de 3
Foto: Sérgio Azenha/SÁBADO
Foto: Sérgio Azenha/SÁBADO
Foto: Sérgio Azenha/SÁBADO

"O maior risco é a falta de respeito que se tem pelo sono. Em Portugal, ainda não se valoriza o sono como algo essencial para o nosso bem-estar e a nossa saúde", disse à agência Lusa o presidente da associação, Joaquim Moita, que alerta para a prevalência na população portuguesa de doenças como a síndrome de apneia obstrutiva (49% dos homens e 25% das mulheres têm ou virão a ter) e a insónia crónica (10% dos adultos).

Joaquim Moita sublinha que sem qualidade de sono podem surgir vários outros problemas, nomeadamente cardíacos - "em cada dez AVC, três ou quatro são em indivíduos com apneia do sono".

"Achamos que trabalhar é mais importante que dormir. Mas depois qual vai ser a rentabilidade no trabalho? O que é que se produziu do ponto de vista físico e intelectual? Se não dorme oito horas, a rentabilidade é mais baixa, e as empresas regem-se cada vez mais pela rentabilidade do que pelo número de horas", frisou.

Hoje, Dia Mundial do Sono, o especialista apela a que os portugueses sigam o exemplo do futebolista Cristiano Ronaldo, a quem "ninguém tira as suas oito ou nove horas de sono por dia".

Além disso, o presidente da Associação Portuguesa do Sono salienta que é necessário não ir atrás de "manias e modas", que vão surgindo, como "o disparate de levantar cedíssimo e ir logo correr - é caminho andado para um enfarte".

Na sociedade moderna e industrializada, onde já são poucas as pessoas que se deitam quando o sol se põe e se levantam com o nascer do sol, há também hábitos e situações laborais que potenciam uma má qualidade do sono, notou.

Normalmente, o ritmo endógeno do humano diz que "às 06:00 está na altura de se preparar para acordar", produzindo cortisol (hormona associada à actividade e movimento), sendo que perto das 21:00, com a escuridão, começa a ser libertada melatonina (associada ao sono), que atinge o seu pico por volta das 00:00, explanou.

Face a esse processo, o sol acaba por ser um "marcador do tempo", que ajuda a fazer a sincronização entre o ambiente e o ritmo interno de cada um.

O hábito de estar à frente de computadores, 'smartphones' e televisões à noite acaba por inibir a libertação da melatonina, face à emissão de luz azul pelos aparelhos, sublinha Joaquim Moita.

O trabalho por turnos nocturnos também pode ter consequências, especialmente se for mais de oito horas por dia e durante mais de duas semanas e horários de trabalho muito flexíveis - situação que se verifica muito entre profissionais liberais - também pode resultar em implicações para a saúde, frisou.

Segundo o coordenador do Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, há que seguir o bom senso: sete a nove horas de sono, deitar-se sempre à mesma hora e procurar logo o sol (devido à produção de cortisol) e acordar sempre à mesma hora (ao fim de semana pode ter-se "um desconto de uma hora", refere).

"Há uma hora para descansar e uma hora para estar acordado, mas as sociedades modernas não respeitam muito esses nossos relógios e ritmos. É preciso combater essa desregulação", frisou.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela