Secções
Entrar

Doente que se diz curada da fibromialgia lamenta descomparticipação de medicamento

05 de dezembro de 2018 às 13:08

A presidente da Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia, extinta no sábado, Fernanda Margarida de Sá, lamentou que o fármaco à base de citicolina que lhe "retirou os sintomas da fibromialgia" tenha deixado de ser comparticipado.

A presidente da Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia, extinta no sábado, Fernanda Margarida de Sá, lamentou esta quarta-feira que o fármaco à base de citicolinaque lhe "retirou os sintomas da fibromialgia"tenha deixado de ser comparticipado.

A responsável, que iniciou o tratamento em novembro de 2017, disse ter informado dos resultados que obteve a todas as entidades públicas com responsabilidade na área da Saúde em Portugal, incluindo o Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde.

"Nove dias depois [de informar as autoridades], o medicamento deixou de ser comparticipado", disse.

Enquanto presidente da Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia (APDF) disse ter insistido com o Infarmed no sentido de voltar a comparticipar o fármaco em causa, por considerar que, "ao preço que está, poucos são os doentes que o podem adquirir. Um frasco, cujo custo ronda os nove euros, dura apenas uma semana".

Tendo em atenção que o medicamento, que tem como princípio ativo a citicolina, estava a ter resultados "muito positivos, na maioria dos doentes questionados" pela associação, a dirigente da APDF enviou em junho, de 2018, um email questionando o Infarmed sobre as razões da retirada da comparticipação desde 01 de dezembro de 2017.

Na resposta, a que a Lusa teve acesso, o Infarmed explicou que "a exclusão da comparticipação da DCI citicolina foi promovida ao abrigo do artigo 15.º, n.º 1, alínea a) do Decreto-Lei n.º 97/2015, de 1 de junho, na sua redação atual -- exclusão da comparticipação por eficácia ou efetividade não demonstrada para efeitos de comparticipação".

"Nesta avaliação concluiu-se não existir demonstração robusta e consistente de eficácia da citicolina nas indicações clínicas do RCM (AVC isquémico e traumatismos cranianos), seja em formulações injetáveis, soluções orais ou formas orais sólidas pelo que se propôs a descomparticipação de todos os medicamentos contendo citicolina (...). Importa aqui referir que nenhum RCM [Resumo das Características do Medicamento] contém indicação terapêutica específica para fibromialgia", refere.

O Infarmed acrescenta que "uma eventual renovação da comparticipação do medicamento (...) está dependente da submissão de um pedido de comparticipação por parte do Titular de AIM [autorização de introdução no mercado] com apresentação de documentação técnico-científica demonstrativa da inovação ou equivalência terapêutica para as indicações terapêuticas reclamadas".

À Lusa, Fernanda de Sá disse que a APDF encerrou a sua atividade por diversos motivos, mas, sobretudo, por não fazer sentido continuar a lutar pelos direitos dos doentes, quando "descobriu", por "um simples acaso", um medicamento que a faz sentir-se "curada".

Garantiu, contudo, que não irá parar o seu trabalho e que irá continuar a acompanhar e a informar os doentes, para o que criou uma outra página na rede social Facebook: 'Fibromiálgicos unidos pela saúde'.

A responsável quer agora falar em nome individual, e "com liberdade", de um fármaco que lhe foi receitado há um ano para um problema que, aparentemente, não estava relacionado com a fibromialgia.

Fernanda de Sá disse que, desde que começou a falar no medicamento, tem sido alvo de "graves insultos e acusações falsas" à sua pessoa e à APDF.

"Fomos acusados de receber uma avultada verba do laboratório e que estávamos a pagar aos doentes que mencionavam que estavam a sentir a cura. Isto foi ofensivo demais e, a partir daí, comecei a sentir que a APDF tinha de acabar", sublinhou.

Fernanda Margarida de Sá, que começou a sofrer de fibromialgia há 25 anos, disse que "após a primeira toma do medicamento, à noite" o seu acordar "foi surpreendente".

Acordou "com o corpo, e principalmente as mãos, desinchadas, sem qualquer sinal de dor correspondente à fibromialgia e com vontade de sair, de se mexer e de fazer coisas que há muitos anos não conseguia", situação que se mantém até hoje.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou em 2016 a norma "Abordagem Diagnóstica da Fibromialgia", reconhecendo oficialmente a doença que, segundo dados da APDF, atinge mais de 300 mil pessoas em Portugal.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela