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ADN pré-histórico ajuda a traçar evolução das epidemias. Pecuária desempenhou um papel importante

Sofia Parissi 04 de setembro de 2025 às 07:00

Um estudo analisou ADN antigo de mais de 1.300 amostras humanas na Eurásia. As conclusões revelam como as zoonoses se disseminaram ao longo de 37 mil anos.

Ao longo dos séculos, os surtos de doenças infeciosas tiveram um impacto negativo na humanidade que se manifesta até hoje. Um estudo do Centro de Geogenética da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, identificou 214 espécies conhecidas de agentes patogénicos em amostras de ADN pré-histórico, algumas delas responsáveis por doenças como a peste, a difteria e a lepra.
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As principais conclusões revelam que o aparecimento de zoonoses - doenças transmitidas de animais para humanos - aconteceu há pelo menos 6.500 anos e que estas se disseminaram há 5 mil anos, altura que coincide com o desenvolvimento da pecuária.  "Suspeitávamos que a transição para a agricultura e a pecuária abriu as portas para uma nova era de doenças, agora o ADN demonstra que isso ocorreu há pelo menos 6.500 anos", diz Eske Willerslev, que liderou o estudo. "Atualmente, as zoonoses representam mais de 60% das doenças infeciosas emergentes", de acordo com os investigadores. “É uma ideia bonita que faz sentido: a pecuária trouxe consigo as zoonoses. Mas, na verdade, há muito poucas provas conclusivas a esse respeito” refere Martin Sikora, primeiro autor do estudo, citado pelo jornal El País. No estudo, que é o maior feito até agora sobre doenças infeciosas humanas ao longo da história, “o que fizemos, que antes não podíamos fazer, foi examinar um grande número desses patógenos num amplo conjunto de dados ao longo do espaço e do tempo para ver se realmente podemos observar tendências temporais que apoiem esta hipótese. E encontrámos”.  “[As descobertas] também indicam que a disseminação desses agentes patogénicos aumentou substancialmente durante os milénios seguintes, coincidindo com as migrações dos pastores que viviam na estepe eurasiana”, pode ler-se no estudo publicado na revista .     Para chegar a estas conclusões, os cientistas recuperaram ADN microbiano em 1,313 amostras ancestrais, sendo que os humanos mais antigos analisados viveram há 37 mil anos, entre o oeste da Eurásia e o lago Baikal, na Sibéria.  Um dos casos mais surpreendentes diz respeito ao ADN de um caçador-coletor da Rússia, de há 11 mil anos atrás, no qual foram identificadas duas infeções: uma delas com a bactéria Helicobacter pylori, associada a infeções gástricas, e a outra associada à bactéria respiratória C. diphtheriae, que causa difteria. De acordo com um comunicado da Universidade de Cambridge, o estudo também identificou vestígios de malária de há cerca de 4.200 anos, lepra há 1.400 anos e vírus da Hepatite B há 9.800 anos. Além disso, detetou o vestígio genético mais antigo do mundo da bactéria da peste, Yersinia pestis, numa amostra com 5.500 anos. “Se compreendermos o que aconteceu no passado, isso pode ajudar-nos a preparar-nos para o futuro. Prevê-se que muitas das doenças infeciosas emergentes tenham origem nos animais”, refere ainda Sikora.
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