"O nosso espanto, desilusão, incredulidade; ficámos incrédulos ao perceber que, à parte de medidas avulsas, não há um única ideia, um único plano", revelou o realizador João Salaviza.
Plataforma de Cinema lamenta "absoluta irrelevância política" do Ministério da Cultura
A Plataforma de Cinema, que reúne mais de uma dezena de representantes de produtores, realizadores, agências e festivais, lamentou hoje a "absoluta irrelevância política da tutela da Cultura" na ajuda ao setor, paralisado por causa da covid-19.
"O nosso espanto, desilusão, incredulidade; ficámos incrédulos ao perceber que, à parte de medidas avulsas, não há um única ideia, um único plano, é de uma inação absoluta", afirmou à agência Lusa o realizador João Salaviza, que integra a direção da Associação Portuguesa de Realizadores e aquela plataforma.
Segundo o realizador, a Plataforma de Cinema teve uma audiência no passado dia 20 com o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, e com o diretor do Instituto do Cinema e Audiovisual, Luís Chaby Vaz, expondo as fragilidades do setor e propondo várias medidas para acautelar a situação de emergência, mas foram todas rejeitadas.
Entre as propostas, estava a criação de um fundo de emergência para o cinema, "à semelhança do que já está a ser feito noutros países" e que, segundo a plataforma, chegou a ser estudada pelo ICA, mas foi "subitamente descartada" pela tutela.
Em comunicado divulgado hoje, a Plataforma do Cinema refere ainda que na audiência foi proposto um reforço do apoio da RTP e ainda a criação de um plano de contingência a dois anos para amortizar os prejuízos decorrentes da suspensão da atividade cinematográfica.
Tal como noutros setores da Cultura, o cinema ficou paralisado por causa da pandemia da covid-19, com encerramento de salas de cinema, adiamento de alguns festivais e de rodagens de produções cinematográficas.
O Ministério da Cultura garantiu que iria manter em funcionamento o calendário de concursos do ICA, agilizando ainda alguns procedimentos e aliviando a carga burocrática, mas João Salaviza considera que são medidas avulsas "que não têm nada de estrutural e que são absolutamente irrelevantes para a dimensão do problema".
Em nome da plataforma, João Salaviza fala de uma "catástrofe absoluta no setor da cultura e em particular no cinema", uma "emergência social gravíssima" na qual a tutela deveria concentrar-se.
"Podemos aceitar que haja menos dinheiro, mas não acreditamos que não haja dinheiro. [...] A interrupção ou adiamento de uma rodagem não é como uma loja que fecha e no dia seguinte se reabre quando for permitido. Há toda uma estrutura que se desmonta e que para voltar a erguê-la é preciso tempo e condições", disse.
Desde que foi decretado o estado de emergência, em março, o Ministério da Cultura anunciou várias medidas, algumas processuais, de apoio ao setor cultural, e dois montantes financeiros adicionais: Um milhão de euros para uma linha de financiamento de emergência, cujos beneficiários não foram ainda revelados, e 400 mil euros para aquisição de livros às pequenas editoras e livrarias.
O comunicado divulgado hoje pela Plataforma do Cinema é assinado pela Associação pelo Documentário, Associação Portuguesa de Realizadores, Produtores de Cinema Independente Associados, pela Casa da Animação, pelas agências Portugal Film e Agência da Curta Metragem e pelos festivais Curtas Vila do Conde, Doclisboa, IndieLisboa, Monstra - Festival de Animação de Lisboa, Porto/Post/Doc e Queer Lisboa.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 200 mil mortos e infetou mais de 2,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Perto de 800 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 903 pessoas das 23.864 confirmadas como infetadas, e há 1.329 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
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