Os hábitos e as extravagâncias da família real nas férias

Pedro Jorge Castro 06 de setembro de 2015

O Rei D. Carlos tinha 150 criados e passava quatro meses por ano entre caçadas, mergulhos no Oceano e viagens de iate

O sinal de entrada de D. Carlos e D. Amélia no parque foi dado por uma orquestra de violinistas empoleirados nas árvores. Do portão até à casa, ao longo de um tapete coberto por um toldo de seda às riscas azuis e brancas, alinhavam-se os criados da Casa Palmela, que empunhavam candelabros e trajavam o seu uniforme de galões de ouro, calções verdes de veludo e luvas brancas. O baile sumptuoso, assim descrito por Ramalho Ortigão, foi preparado pela duquesa de Palmela e deslumbrou D. Amélia, que se estreou desta forma na sua primeira festa em Sintra, em 1886, logo a seguir ao seu casamento e antes da lua-de-mel no Palácio da Pena.

Nas duas décadas seguintes, foi em Sintra que a família real iniciou os seus longos períodos de férias, muitas vezes superiores a quatro meses por ano, e que incluíam ainda longas estadias em Cascais, em Mafra, no Vidigal ou em Vila Viçosa. Um dos primeiros pontos altos do Verão tinha aliás data marcada: 31 de Julho, o aniversário do irmão do Rei D. Carlos, o infante D. Afonso. Os festejos começavam com recepções ao início da tarde, no Paço da Pena, e prolongavam-se até à noite, com um baile de gala na Sala dos Cisnes do Paço de Sintra, ao som de valsas tocadas pela banda de Infantaria 1. Em 1895, na página 3 do Diário Ilustrado, na secção de High life – o equivalente da época às revistas sociais – a notícia do acontecimento terminava com a lista de presenças, que se estendia por 50 linhas, e incluía os principais membros da aristocracia, mas também o presidente do Conselho, Hintze Ribeiro, e cinco ministros.

Ao contrário do que possa parecer pelos convidados, o infante D. Afonso não exercia qualquer influência na corte. "Nunca tinha vintém. Os ajudantes ou oficiais às ordens não lhe emprestavam dinheiro, porque sabiam que ele não lhes pagava", desvenda Raul Brandão nas suas memórias. A partir de 1902, o irmão do Rei tornou-se comandante honorário dos bombeiros, pelo que dispunha de um telefone especial em casa para ser informado das principais ocorrências. Mas sobressaiu essencialmente devido à sua paixão pelos carros. Ganhou até a alcunha de Arreda – por ser esse o grito que dava aos peões para se desviarem do caminho, numa altura em que só havia uma centena de automóveis em todo o País.

Numa carta ao irmão, citada na biografia de Rui Ramos sobre o penúltimo Rei de Portugal, falava com entusiasmo sobre o automóvel comprado em Itália (era fã da FIAT), que tinha "oito cavalos de força" e no qual atingiu a estonteante velocidade de "50 km em descidas, e 40 a 50 em caminho direito".

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