Raquel Oliveira, 36 anos, podia ter sido bailarina. Começou na dança clássica ainda miúda e teve aulas de ballet até ser adulta. A carreira artística talvez lhe tenha passado ao lado, nunca o saberá, mas tornou-se cientista sem ter deixado verdadeiramente a dança. Hoje, sempre que pode, troca o laboratório por uma aula de tango argentino – "Não consigo ir as vezes que gostaria" – e descobriu uma disciplina improvável ao microscópio: a dança dos cromossomas.
É assim que a investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência descreve a divisão celular – área da ciência que estuda há vários anos – que ocorre milhões de vezes na vida de um ser humano, sendo responsável pelo crescimento e pela manutenção dos tecidos. "Trata-se de um processo de alta precisão, parece uma coreografia, um momento de extrema sincronização, como uma dança. Para mim foi fascinante, desde o início, ver as células dividirem-se", explica a cientista, distinguida na passada segunda-feira com o Prémio Dona Antónia Adelaide Ferreira, atribuído anualmente pela Sogrape a mulheres que se destacam em diferentes áreas de actividade.
Em Portugal desde 2012, Raquel lidera hoje uma equipa de seis investigadores focada na divisão celular e na morfologia dos cromossomas. É uma área sensível e decisiva no estudo de algumas doenças. "Cada vez que a célula se divide, é obrigatório que as duas células filhas herdem exactamente o mesmo número de cromossomas. É um processo que ocorre quase sempre de forma correcta, mas quando isso não acontece as consequências são drásticas para a célula."
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