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Thibaut Rey, o segurança que "salvou" Gisèle Pelicot

Luana Augusto 22 de dezembro de 2024 às 18:46

Fotografias tiradas por baixo do vestido de várias mulheres no supermercado denunciaram os crimes de Dominique Pelicot. Graças ao segurança, que recusou deixar o suspeito sair impune do estabelecimento, em 2020, as autoridades conseguiram encontrar 20 mil fotografias e vídeos que mostravam Gisèle Pelicot a ser abusada sexualmente por 71 homens.

Um segurança de um supermercado ajudou Gisèle Pelicot a colocar o marido atrás das grades por acusações de abusos sexuais. Era 12 de setembro de 2020, quando Thibaut Rey foi avisado por uma colega que controlava a videovigilância que Dominique Pelicot, estava a filmar mulheres que passeavam pelo supermercado LeClerc e que em tempo quente utilizavam vestidos e saias. O episódio, que parecia ser um caso isolado, acabou por trazer à tona uma série de crimes e de comportamentos perturbadores e que duravam há cerca de uma década.

REUTERS/ZZIIGG

Na altura, os funcionários do supermercado estavam ocupados a garantir que os clientes cumpriam as normas de segurança implementadas devido à pandemia. Dominique Pelicot aproveitou, por isso, a situação para utilizar o seu telemóvel para tirar fotografias e filmar várias mulheres por baixo do vestido. O que o francês não sabia era que as suas ações tinham sido captadas através das câmaras de vigilância do estabelecimento. Face a esta situação, Thibaut Rey foi chamado a intervir e recusou deixar Dominique Pelicot escapar impune.

"Descobrimos que o telefone estava sempre a sair do bolso e que ele estava a filmar por baixo das saias delas. Nós vimo-o fazer isso com três mulheres e ele era obviamente muito bom nisso. Não parecia ser a primeira vez que o fazia", começou por reportar o segurança ao Daily Mail. "Fui e encontrei a primeira vítima, mas ela não quis fazer uma reclamação. Ela disse apenas que não tinha tempo. Mas quando o meu colega da sala de vigilância me disse que ele ainda estava a fazer isso com uma mulher diferente, decidi confrontá-lo diretamente — dessa vez usando o método da força, para alertar a vítima sobre o quão sério era o delito."

Nas imagens obtidas pelo Daily Mail era possível ver o segurança a confrontar Dominique Pelicot. Thibaut Rey, de 38 anos, pegou no braço e no telefone do suspeito e pediu para "não se mover" e aguardar pela chegada das autoridades, acrescenta o Daily Express. Dominique Pelicot foi ainda proibido de eliminar qualquer imagem tirada no estabelecimento.

"Eu estava a pensar na minha mãe e na minha irmã, que fazem compras aqui. Por isso, foi um pouco pessoal", confessou o segurança ao Daily Mail. "Pelicot não resistiu. Ele congelou de terror. Eu vi o medo nos seus olhos."

O francês já havia sido detido em 2010 pelo mesmo crime, levado a cabo também num supermercado em Paris. Mas dois meses depois de ter sido detido pelo segurança, as autoridades francesas acabaram por fazer buscas na casa da sua família. Aqui, a polícia conseguiu ter acesso a mais de 20 mil vídeos e fotos de Gisèle Pelicot a ser abusada sexualmente por 71 homens.

A polícia acabou por mostrar a Gisèle Pelicot as inúmeras fotografias em que aparecia a ser abusada sexualmente pelo marido e outros homens. Os crimes ocorrera em lugares onde a mulher deveria estar segura, como no seu próprio quarto e casa.

Estas imagens encontravam-se guardadas num computador e ainda numa unidade USB em arquivos intitulados de "abusos", "os seus violadores" e "noite sozinha". Havia também um outro arquivo com o nome de "ao redor da minha filha, nua" e que continha imagens da filha Caroline Darian.

A francesa, que foi casada com Dominique durante 50 anos, caracterizou as fotos como "uma cena de terror" e disse que os seus agressores a trataram como um "saco de lixo". As cenas duraram quase uma década e aconteciam enquanto Gisèle Pelicot estava inconsciente.

A mulher não sabia que o seu marido já havia sido detido em 2010, e muito menos que o ADN do mesmo correspondia ao de um homem que atraiu uma jovem imobiliária para um apartamento em Paris, em 1999, e depois a deixou inconsciente com clorofórmico e a tentou violar.

Dominique Pelicot acabou por se declarar culpado pelas acusações e foi recentementre sentenciado a 20 anos de prisão – a pena máxima -, conforme solicitado pelos procuradores. Também outros 50 réus foram considerados culpados de violação, tentativa de violação ou agressão sexual, tendo agora que enfrentar sentenças de 3 a 15 anos de prisão – menos do que os 4 a 18 anos exigidos pela procuradoria.

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