Secções
Entrar

Relatório da ONU conclui que 29 milhões de mulheres e meninas são vítimas de escravatura

10 de outubro de 2020 às 17:41

"Há hoje mais pessoas a viver em situação de escravatura do que em qualquer outra altura da história da humanidade", avisa cofundadora da organização contra a escravatura Walk Free.

Vinte e nove milhões de mulheres e meninas são vítimas de escravatura moderna, desde trabalho escravo a casamentos forçados, servidão por dívidas e servidão doméstica, segundo um relatório das Nações Unidas.

Citada pela agência noticiosa Associated Press (AP), Grace Forrest, cofundadora da organização contra a escravatura Walk Free, disse na sexta-feira que tal significa que uma em cada 130 mulheres e raparigas está atualmente a viver numa situação de escravatura moderna, mais do que a população da Austrália.

"A realidade é que há hoje mais pessoas a viver em situação de escravatura do que em qualquer outra altura da história da humanidade", afirmou Grace Forrest numa conferência de imprensa das Nações Unidas.

A Walk Free define a escravatura moderna como "a supressão sistemática das liberdades de uma pessoa, em que uma pessoa é explorada por outra para benefício pessoal ou financeiro desta última".

Segundo Forrest, a estimativa global de que uma em cada 130 mulheres e raparigas são vítimas de escravatura moderna baseia-se nos levantamentos efetuados pela Walk Free, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), ambas agências da Organização das Nações Unidas (ONU).

"O que este relatório demonstrou é que o género representa uma desvantagem para as raparigas desde a conceção, ao longo de toda a sua vida", disse.

De acordo com o relatório, intitulado "Stacked Odds" ("Em desvantagem"), as mulheres representam 99% de todas as vítimas de exploração sexual forçada, 84% das vítimas totais de casamentos forçados e 58% das vítimas de trabalho forçado.

Para Grace Forrest, a face da escravatura moderna "mudou radicalmente".

"Estamos a assistir à normalização da exploração na nossa economia, nas cadeias transnacionais de abastecimento e também nas rotas das migrações", disse, salientando que "os mais vulneráveis se tornaram ainda mais vítimas desta prática da escravatura moderna devido à covid-19".

Segundo referiu, a estimativa de mulheres e raparigas sujeitas a estas novas formas de escravatura é conservadora, porque não tem em conta o que aconteceu durante a pandemia, em que se registaram "significativos aumentos das situações de casamentos forçados e envolvendo menores de idade e dos casos de exploração no trabalho em todo o mundo".

A cofundadora da Walk Free disse que esta organização e o programa das Nações Unidas "Every Woman Every Child" vão lançar uma campanha global para exigir a tomada de medidas para pôr fim à escravatura moderna.

Conforme adiantou, a campanha reclama o fim do casamento forçado e de menores, que em 136 países continua por criminalizar, e exige a eliminação dos sistemas legalizados de exploração, como o 'Kafala', que prevê que os empregadores dos trabalhadores migrantes sejam responsáveis pelo respetivo visto e estatuto legal, enquanto durar o contrato de trabalho.

A campanha defende ainda uma maior transparência e responsabilização por parte das multinacionais.

"Sabemos que as mulheres e raparigas estão a ser vítimas de níveis sem precedentes de exploração e de trabalho forçado em cadeias de abastecimento dos produtos que compramos e usamos todos os dias, desde a roupa ao café e tecnologia", disse Forrest.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela