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Os mistérios da vida de Afonso Henriques

Vanda Marques 19 de março de 2025 às 23:00

Lutou contra a mãe, proclamou-se Rei e venceu batalhas impossíveis. Era alto e “desejável ao olhar”, mas só casou aos 37 anos. Fez alianças com cruzados, muçulmanos e com Castela. Era violento, mas sabia que precisava dos mouros para povoar e para trabalhar em Portugal. Preparou a sucessão e além de Sancho I, quis ter sempre a filha Teresa por perto.

Teria 1,80 m, cabelo claro, um porte de “gigante”, “valoroso nas armas” e era “desejável ao olhar”. Armou-se cavaleiro sozinho e fazia questão de lutar nas batalhas e até a mãe enfrentou. Do relato da conquista de Santarém, conclui-se que era carismático. Afonso Henriques – que nunca assinou como duque, porque não queria prestar vassalagem ao Rei de Leão e Castela, designava-se como infante ou príncipe, antes de se proclamar rei em 1140 –, dirigiu-se aos companheiros de luta com um discurso motivacional: “Crede-me, meus companheiros de armas, que me parece extremamente fácil e oportuno o que pretendo realizar convosco, e é tal a alegria que experimento no meu espírito e tal a demora do dia de amanhã que se alongam para mim os dias que desejaria se passassem num instante.”

O fundador de Portugal não deixou um diário ou cartas pessoais, costume inexistente na época. Como explica o historiador José Mattoso (que morreu em 2023), na biografia D. Afonso Henriques, escrever sobre uma figura da Idade Média não é possível “sem uma grande dose de imaginação”. O professor Saul António Gomes acrescenta: “As tentativas de reconstituir Afonso Henriques serão todas muito hipotéticas, porque é difícil conseguirmos chegar ao que foi enquanto pessoa.” Já o historiador egípcio A. R. Azzam, autor do novo livro D. Afonso Henriques e o Rebelde Místico, aponta que o Rei era perseverante. “Tinha um sentido muito pragmático e fez alianças com os muçulmanos. Não concordava com a violência dos cruzados”, diz à SÁBADO.



O mito de que chacinava todos os muçulmanos cai por terra com o seu testamento. Ao mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, deixou “o meu mouro ourives e o meu mouro carpinteiro e o mouro alfaiate”.

O historiador Saul António Gomes destaca esta nota como uma pista sobre como era o monarca. “Provavelmente ele gostava de se vestir bem, para ter um alfaiate mouro, porque o vestuário de tradição muçulmana das cortes era luxuoso.” Conheça este e outros mitos em torno do Rei-fundador.

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