Mais de 150 anos depois, fotografias de expedição trágica ao Ártico vão a leilão
As fotografias da tripulação do HMS Terror e HMS Erebus (cuja história trágica deu origem a uma série recente) vão a leilão, mais de um século e meio depois dos seus tripulantes terem morrido.
ASotheby's vai levar a leilãoretratos de tripulantes de dois navios que desapareceram no Círculo Polar Ártico em meados do século XIX. As fotografias foram tiradas antes da viagem do HMS Erebus e o HMS Terror e mostram a tripulação do navio que acabaria por morrer na viagem em circunstâncias que ainda estão largamente por apurar.
A leiloeira espera amealhar entre 150 e 200 mil libras (entre 175 mil e 235 mil euros). O leilão começa esta quinta-feira, 7 de setembro.
Em 1845 a Marinha Real Britânica decidiu enviar uma expedição para encontrar a Passagem do Noroeste no Ártico, que faria a ligação entre o Atlântico e o Pacífico sem ter de se contornar a América do Sul. Para capitanear a expedição de dois navios - o Her Majesty's Ship (HMS, sigla para Navio de Sua Majestade) Erebus e o HMS Terror - foi escolhido John Franklin, de 59 anos e que já tinha empreendido duas viagens ao Ártico (1819-1922 e 1825-1827), além de ser um veterano das guerras napoleónicas. A Passagem do Noroeste, próxima do Círculo Polar Ártico, serviria como ligação entre o Estreito de Bering e o Estreito de Davis por entre canais ladeados por grandes blocos de gelo. A missão era perigosa, mas importante.
Os navios zarparam a 19 de maio de 1845, a partir do porto de Greenhithe, em Inglaterra. E apesar de todos desejarem que a missão fosse um sucesso, o nome dos navios (Erebus é a personificação grega das trevas e da escuridão) seria profético, tendo os dois encontrado um destino sombrio. Sabendo que a viagem não seria fácil, Franklin mandatou que os navios fossem equipados com o material de navegação mais moderno e com mantimentos bordo suficientes para resistirem cinco anos. O capitão sabia que havia chance de ficarem presos no Ártico durante o inverno.
Na travessia do Atlântico, a expedição fez escalas nas Ilhas Orkney, na Escócia, e na Baía de Disko, na Gronelândia. Daí enviaram a última remessa de cartas para casa. Em julho, os navios foram avistados pela última vez, por dois navios baleeiros, perto do estreito de Lancaster que dá acesso às ilhas canadianas no Ártico. Não voltaram a ser avistados.
Em 1849 foi enviada uma missão de resgate, a pedido da mulher de Franklin. Em 1850, 11 navios britânicos e dois americanos encontraram os primeiros sinais da expedição: os túmulos de três tripulantes, na Ilha Beechey. Quase dez anos depois, em 1859, outra expedição encontrou uma mensagem, escrita em 1848, que dizia que 28 tripulantes, incluindo Franklin, tinham morrido um ano antes.
John Franklin morreu em junho de 1847 e até ao final do ano outros 27 tripulantes perderiam a sua vida. Os restantes tripulantes organizaram uma expedição para encontrar um lugar seguro, mas nunca chegaram ao mesmo, tendo morrido no caminho.
Em 1853, o explorador John Rae encontrou pistas sobre o paradeiro dos tripulantes do HMS Terror e HMS Erebus. Um nativo afirmou ter avistado os exploradores anos antes. "Pelo estado mutilado de vários dos cadáveres e o conteúdo dos caldeirões, é evidente que os nossos compatriotas desgraçados recorreram ao último recurso — o canibalismo — para sobreviverem", escreveu Rae numa carta para a secretaria da Marinha em 1854.
Ao longo dos 150 anos seguintes, mais de 90 expedições foram realizadas para saber o que tinha acontecido com a tripulação de Franklin. Já no final do século XX foram encontrados alegados restos mortais desses homens que confirmavam a teoria do canibalismo. Vários dos ossos estavam moles por terem sido cozinhados, outros estavam partidos, um deles tinha sido usado como colher. Os arqueólogos encontraram ainda relatos escritos das tribos índias sobre o caso.
Apesar de haver indícios sobre o destino dos tripulantes, estavam ainda por encontrar os navios, até que em 2014 foi encontrado o HMS Erebus. Dois anos depois era a vez do HMS Terror ser encontrado, no fundo do mar.
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