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Jogo online e o perigo dos influencers e youtubers

Diogo Barreto 19 de junho de 2025 às 10:00

"A exposição constante a este tipo de conteúdos normaliza a ideia de que o dinheiro pode ser ganho sem esforço", avisa especialista em finanças infantis.

Os anúncios a casinos são uma constante nas redes sociais e nos meios de comunicação social. Antes de um vídeo há um anúncio ao casino Solverde, entre cada dez stories há uma a promover a Bwin ou no início de cada vídeo de um youtuber há um anúncio a uma casa de apostas que nem está regularizada em Portugal. A educadora financeira infantil Cristina Judas alerta para os perigos desta propagação junto do público mais jovem.

Sina Schuldt/picture alliance via Getty Images

"A exposição constante a este tipo de conteúdos normaliza a ideia de que o dinheiro pode ser ganho sem esforço, uma mensagem que mina os fundamentos da educação financeira e cria uma relação tóxica com o dinheiro desde cedo", avisa Cristina Judas, fundadora da Hey!Möney, que dá conta de que a indústria do jogo online gerou 323 milhões de euros em receita bruta no último trimestre de 2024, um aumento de 42,1% face ao ano anterior.

Segundo o relatório oficial da atividade de jogo online existem já mais de 4,7 milhões de registos em plataformas de apostas em Portugal, com mais de 300 mil novos registos só no último trimestre. Entre os novos jogadores, um terço (33,1%) têm entre 18 e 24 anos e a esmagadora maioria (80%) têm menos de 45 anos. Cristina Judas ressalva que este é precisamente o público-alvo da maioria dos criadores de conteúdo online.

E Cristina Judas quer apontar o dedo precisamente à utilização de celebridades na promoção de apostas online: "São campanhas bem orquestradas, com estética cuidada, narrativas envolventes e, em muitos casos, colagem a causas sociais para ganhar credibilidade". A especialista em finanças elenca que as casas de apostas recorrem a atores consagrados, cantores populares e influencers com milhões de seguidores para promoverem jogos de azar de forma tão descomprometida como se estivessem a promover "uma nova linha de roupa". "Mas o que estão a vender não é um produto: é uma ilusão. E quando ela rebenta, o impacto é devastador", sublinha Judas.

Os efeitos a longo prazo

Vários estudos recentes apontam para que os jogos online, tal como as raspadinhas, atingem de forma desproporcional as franjas mais vulneráveis da sociedade, sejam elas adolescentes, jovens adultos e famílias em dificuldades financeiras. E, no entender de Cristina Judas, "o capital de confiança" associado às figuras públicas que promovem os casinos "está a ser usado para promover comportamentos de risco com consequências sociais reais". "O que hoje é um story com luzes, códigos de desconto e promessas de jackpot, amanhã pode ser um drama familiar escondido por vergonha e endividamento", adverte.

O impacto sobre os mais novos, segundo Cristina Judas, é invisível mas duradouro: "As crianças não estão a apostar ainda, mas estão a observar. Estão a absorver a mensagem de que o dinheiro fácil é uma solução. Que sorte é mais valiosa que esforço. E isso é o contrário de educação financeira, é deseducação emocional e cognitiva".

No sentido de proteger precisamente a população mais vulnerável, Cristina Judas propõe o estabelecimento de novas normas sobre a publicidade de apostas online nas redes sociais, especialmente em conteúdos visíveis por menores, aplicar penalizações às campanhas que romantizam o risco e promovem "dinheiro fácil" e ainda incentivar influenciadores e marcas a assumirem compromisso com a proteção da infância e juventude.

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