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Como surgiu o chocolate de queijada de Sintra que se tornou viral

Susana Lúcio 04 de abril de 2025 às 07:00

O chef Bruno Santos, que chegou a preparar sobremesas para o Manchester United, quis prestar homenagem à avó e mãe, que foram queijadeiras, as mulheres que antes faziam a casquinha das queijadas de Sintra.

Bruno Santos estava em Óbidos, onde dirige a chocolateira Óbidos Chocolate House, quando na passada segunda-feira, dia 31, o seu chocolate com recheio de queijada de Sintra se tornou viral. "Fiquei surpreendido", garante à SÁBADO. Pouco depois surgiram os primeiros pedidos. "Recebi cerca de 40 encomendas, que tenho feito durante as minhas folgas", conta. "É o meu melhor amigo que tem feito a distribuição", acrescenta.

O chocolate tornou-se viral depois da candidata do PS à Câmara de Sintra, Ana Mendes Godinho, ter publicado um vídeo no Facebook a compará-lo ao Chocolate do Dubai. "Encontrei um ainda melhor! Aqui no Festival de Chocolate de Agualva e Mira Sintra há Chocolate de Queijada de Sintra", diz enquanto parte a tablete pintada em tons amarelos. A publicação recebeu 256 mil visualizações.

O chef pasteleiro teve a ideia no verão passado, quando se inscreveu no concurso do Festival de Chocolate da Agualva e Mira Sintra, que se realizou no último fim de semana de março. "Um dos concursos pedia que se recriasse um doce regional", conta. "Eu cresci em Mem Martins e pensei na queijada de Sintra", conta. 

A ligação ao doce é mais profunda. "A minha mãe e a minha avó foram queijadeiras, as senhoras que antes faziam as casquinhas de farinha e água e que eram secas ao sol", recorda. As casquinhas eram empilhadas à dúzia e as pastelarias de Sintra iam lá comprá-las e recheavam-nas. "Em criança ia à Casa Piriquita, entrava na cozinha e adorava aquilo", acrescenta. 

O chocolate é fruto de um mês e meio de experiências. "O queijo fresco de cabra e ovelha - de um produtor de Sintra - dificultou a confeção porque tem um período de caducidade de cinco dias", explica. Depois de vários testes conseguiu que a tablete pudesse ser consumida em segurança até uma semana e meia depois de confeccionada.  

O chocolate de queijada é a inovação mais recente da sua marca, Gooey Lab. Confeciona tabletes recheadas com mousse de chocolate, bolo de chocolate e também ao estilo do Dubai. "Compro os pistácios iranianos, que são os de melhor qualidade, faço a massa kadaif, que depois frito em manteiga, e junto chocolate branco e um pouco de tahini [pasta de sementes de sésamo]", explica. Os seus chocolates do Dubai, com 500g e pintadas de verde, custam 30 euros, os de queijada de Sintra custam 25 euros. 

Das batatas aos bolos

A pastelaria tornou-se numa paixão por acaso. Aos 15 anos, sem saber o que queria fazer no futuro, inscreveu-se na Escola de Hotelaria do Estoril no curso profissional de Cozinha e Pastelaria. "O primeiro ano correu mal: fazíamos estágios de dois meses e meio em restaurantes e eu devo ter descascado 200 kg de batatas", recorda. Só não desistiu para não desapontar os pais.

No segundo ano fez estágio no restaurante do Hotel Cascais Miragem e correu melhor. "Foram dois meses na cozinha e duas semanas na pastelaria e foi aí que começou a paixão", conta. Depois de uma bolsa de estudo em Itália, fez o curso superior de Gestão de Cozinha e procurou aprender mais sobre pastelaria. 

"Ofereci-me como estagiário no restaurante do Hotel Fortaleza do Guincho, que tem uma estrela Michelin, só para trabalhar na área da pastelaria", diz. Para pagar as despesas, trabalhava em part-time na Decathlon. Ao fim de três meses e meio, o chef contratou-o como ajudante e ficou mais três anos.

Em 2013, foi para Londres viver e chefiou equipas em empresas de catering. "Fazíamos eventos para o Manchester United, para o Manchester City, para o Liverpool: eram sete mil sobremesas", conta. 

Chegou a comprar uma casa em Manchester, mas a pandemia alterou-lhe os planos. "Criei a minha primeira marca, Sinner [pecador], nessa altura, para pagar as contas: vendia pastéis de nata, cookies, macarons e salame de chocolate com recheio de creme de avelã e cobertura tipo Ferrero Rocher."

Em 2021, decidiu regressar para estar mais perto dos pais e, depois de falar com o curador do Festival de Chocolate de Óbidos, Francisco Siopa, foi contratado para criar o menu e dirigir o Óbidos Chocolate House. Aqui também faz tabletes recheadas com caramelo, brigadeiro, doce de leite e framboesa e pimenta rosa. "A pedido do Festival de Chocolate de Óbidos comecei também a fazer esculturas de chocolate. Está a correr bem", conclui.

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