Alex Batty preparou fuga após discussão com a mãe
Jovem esteve desaparecido seis anos mas já está com a sua tutora legal, a avó, em Inglaterra. Desde os 14 anos - tem agora 17 - que pensava em escapar-lhes.
Alex Batty, o jovem encontrado em Françaseis anos após o seu desaparecimento, conseguiu fugir do controlo da mãe e do avô. Os dois familiares raptaram-no em 2017. Esta quinta-feira (21), em entrevista ao jornal britânico The Suno jovem, agora com 17 anos, revela como planeou a sua fuga e mentiu sobre alguns detalhes para proteger a mãe e o avô da polícia.
"Tenho mentido para tentar proteger a minha mãe e o meu avô, mas sei que provavelmente vão ser apanhados na mesma. Fingi que tinha feito uma viagem tão longa por essa razão. Não me perdi. Sabia exatamente para onde estava a ir. Só queria dar a volta para que fosse uma história verdadeira. Sou um caminhante muito competente. Conhecia bem a zona e sabia onde havia nascentes para poder beber água. Dormi ao relento, no chão. Estava um gelo. Se precisava de ir à casa de banho, usava folhas e erva", disse, ao descrever a sua caminhada de dois dias.
"O meu plano era chegar a Toulouse e afastar-me o máximo possível, mas estava tão exausto que, quando o estafeta me apanhou, contei uma história sem rodeios. Pensei: 'Oh Zack, o que é que fizeste'. Zack era o nome que eu usava quando alguém me perguntava. Eu nem sequer estava a pedir boleia quando ele me apanhou. Estava a atravessar uma pequena ponte. Ele disse que parou porque viu que eu tinha umskate. Estava a chover a potes e estava escuro porque eram 3 da manhã", relatou ao jornal.
Alex Batty foi resgatado já perto de Toulouse por Fabien Accidini, um estudante e estafeta francês que o pôs em contacto com a avó. Alex não tinha telemóvel. "Ele estava a entregar pacotes, então eu ajudei-o porque era o mínimo que podia fazer. Ele deixou-me usar o telemóvel dele para entrar em contacto com a minha avó. Depois disso ligou para a polícia e uma viatura que estava nas proximidades levou-me para a esquadra mais próxima."
Na esquadra, foram-lhe tiradas cinco vezes as impressões digitais."Dois polícias levaram-me para outra esquadra, onde tomei um duche. Sentei-me no sofá e relaxei um pouco até chegar um tradutor de inglês. Na quarta-feira, passei a noite num lar de acolhimento e fiquei lá na quinta e na sexta-feira. Na sexta-feira, disseram-me que podia regressar a casa sem passaporte e no sábado cheguei ao aeroporto de Toulouse onde o meu outro avô estava à minha espera com dois polícias e a minha assistente social. Fiquei tão feliz por o ver que lhe dei um abraço", contou.
Alex deixou a propriedade em França no dia 11 de dezembro, já perto da meia-noite e deixou um bilhete de despedida. Com ele, além doskate, levou também uma mochila com quatro t-shirts, três pares de calças, meias, cuecas, uma lanterna, 100 euros e um canivete suiço.
Uma discussão com a mãe foi o que o levou a meter em prática o seu plano de fuga. "Tive uma discussão com a minha mãe e pensei logo que me ia embora porque não conseguia viver com ela. Ela é uma ótima pessoa e eu adoro-a, mas não é uma boa mãe", disse aoThe Sun.
Aos 14 anos, Alex começou a ter dúvidas sobre o seu estilo de vida nómada, uma vez que tinha ambições futuras de estudar numa faculdade, e foi nos Pirenéus franceses - onde estava a viver - que deu início à sua fuga, inspirada no filmeThe Great Escape (A Grande Evasão).
"Comecei a pensar em fugir pela primeira vez quando tinha 14 ou 15 anos. Apercebi-me que não era uma boa forma de viver para o meu futuro. A nuvem tinha-se dissipado porque comecei a pesar tudo de novo - os prós e os contras de Inglaterra. Não sabia o que iria acontecer no meu futuro se ficasse com a minha mãe, mas com base nos últimos anos, podia ter uma ideia de como seria a vida. Andar de um lado para o outro. Sem amigos, sem vida social. Trabalhar, trabalhar, trabalhar e não estudar. Era essa a vida que eu imaginava que estaria a levar se ficasse com a minha mãe. Seria sempre a mesma coisa, quer fosse em França ou em Espanha", explicou ao jornal.
A mãe de Alex, Melanie, e o avô, David Batty, deixaram as suas casas em Manchester no dia 30 de setembro de 2017 para passar férias em Marbella, Espanha. Durante esse tempo Alex ainda fazia aquilo que realmente lhe dava prazer. "Nos primeiros anos, quando estive em Espanha, eram realmente férias. Passei a maior parte dos dias a fazer o que queria. A ler, a desenhar, a ir à praia", contou. Durante o período em que foi dado como desaparecido fez apenas um amigo. "Durante os seis anos fiz um amigo e foi a única pessoa que realmente conheci. Tinha quase a minha idade".
Um ano após Alex ter desaparecido a sua tutora legal - a avó Susan Caruana - disse à BBC que acreditava que a mãe e o avô o tinham levado para viveram com uma comunidade espiritual em Marrocos. Dezassete anos depois, Alex voltou a reencontrar-se com a sua avó e agora está cada vez mais perto de realizar o seu sonho de ser engenheiro informático.
"Fui levado para a casa da minha avó, entrei pela porta e ela estava na sala de estar. Comecei a tremer e dei-lhe um grande abraço. A casa está diferente agora, mas continua a ser a mesma. A maior diferença é que, quando saí, era um rapaz, mas agora tenho 1,80 m, por isso sou demasiado grande para a cama. É ótimo estar de volta. Tenho tido muita ajuda dos serviços sociais e da polícia e quero ir para a universidade. Percebo muito de francês, por isso não vou desistir disso. Vou continuar a estudar. Quero fazer ciências informáticas ou cibersegurança ou desenvolvimento deblockchain, por isso vou estar ocupado a estudar e a pôr a conversa em dia".
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