Sábado – Pense por si

Utente do Amadora-Sintra fez biópsia mamária em 2020 e só soube diagnóstico de cancro em 2023

Hospital reconhece que se encontra "numa situação de extrema carência de médicos devido à saída de vários profissionais para outras instituições de saúde ainda sem a devida reposição".

O Hospital Amadora-Sintra foi alvo de uma queixa por ter realizado uma biópsia mamária em 2020 e a utente só saber o resultado do exame, cancro da mama, em 2023, o que levou à intervenção do regulador da saúde. 

Hospital Amadora-Sintra
Hospital Amadora-Sintra DR

A queixa foi apresentada pela neta da utente, que conta na reclamação que a avó fez uma biópsia mamária em 2020 no Hospital Fernando Fonseca, agora denominada Unidade Local de Saúde Amadora-Sintra, e só souberam "o resultado, após muita procura, no dia 13 de fevereiro 2023 numa consulta com a agora médica de família, de que tem cancro na mama".

"Reclamo e questiono se o Hospital Amadora-Sintra não deveria ter de imediato, após a confirmação do diagnóstico ter chamado a utente para o respetivo tratamento. Todos sabemos que estes tipos de doenças podem, quando atempadamente tratados, ser superadas", escreve na reclamação divulgada hoje no relatório das deliberações da ERS tomadas durante o primeiro trimestre deste ano.

Na queixa, a reclamante afirma que responsabiliza este hospital "por tudo o que possa acontecer daqui para o futuro, nomeadamente todos os custos, encargos e o que for necessário" para manter a sua avó "estável, saudável e com todo o conforto".

Em resposta à reclamação rececionada pela ERS, o hospital afirma que a Unidade de Senologia do Serviço de Ginecologia se encontra "numa situação de extrema carência de médicos devido à saída de vários profissionais para outras instituições de saúde ainda sem a devida reposição".

"Tem sido muito difícil dar resposta atempada aos pedidos não obstante o esforço por parte dos restantes médicos. O Hospital tem feito todos os esforços para repor o quadro de médicos do serviço. [...]", afirma na resposta, adiantando que foi marcada uma consulta para 27 de março de 2023, à qual a utente compareceu.

Na sequência das diligências de averiguação encetadas, o regulador apurou que a utente realizou em 29 de setembro de 2020 a primeira consulta da especialidade de ginecologia neste hospital, em que foi prescrito a realização de ecografia mamária, mamografia e biópsia mamária, que foram realizadas em 25 de novembro dessse ano.

"Sucede, porém, que não foi efetuada qualquer comunicação à utente do resultado dos referidos MCDT [exames], nem foi agendada nova consulta de ginecologia para apreciação da situação clínica da utente e a definição de plano de cuidados", sublinha a ERS.

Assim, a consulta de avaliação para realização de planos de cuidados de saúde programados foi realizada no dia 27 de março de 2023, mais de dois anos após a realização da primeira consulta da especialidade, "e só ocorreu por força da subscrição da reclamação que esteve na génese dos presentes autos".

Para o regulador, seria exigível que o prestador procedesse, por um lado, ao agendamento da prestação de cuidados de saúde e, por outro, por não dispor de capacidade instalada, informasse a utente "de que lhe é assegurado serviço alternativo de qualidade comparável e no prazo adequado, através da referenciação para outra entidade do SNS ou para uma entidade do setor convencionado", o que o hospital não logrou fazer, em violação da Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde pelos Utentes do SNS.

A ERS emitiu uma instrução à ULS de Amadora-Sintra no sentido de garantir que são respeitados em permanência os direitos e interesses legítimos das utentes, nomeadamente os de "acesso aos cuidados adequados e tecnicamente mais corretos, os quais devem ser prestados humanamente, com respeito pela utente, com prontidão e num período de tempo clinicamente aceitável".

Artigos Relacionados
No país emerso

Por que sou mandatária de Jorge Pinto

Já muito se refletiu sobre a falta de incentivos para “os bons” irem para a política: as horas são longas, a responsabilidade é imensa, o escrutínio é severo e a remuneração está longe de compensar as dores de cabeça. O cenário é bem mais apelativo para os populistas e para os oportunistas, como está à vista de toda a gente.

Visto de Bruxelas

Cinco para a meia-noite

Com a velocidade a que os acontecimentos se sucedem, a UE não pode continuar a adiar escolhas difíceis sobre o seu futuro. A hora dos pró-europeus é agora: ainda estão em maioria e 74% da população europeia acredita que a adesão dos seus países à UE os beneficiou.