O embaixador da Bielorrússia na Eslováquia, que apoiou publicamente os protestos contra o Presidente Alexander Lukashenko, anunciou hoje que pediu a demissão, um gesto interpretado como um sinal de divisões crescentes entre a elite política bielorrussa.
Numa entrevista, o embaixador Igor Leshchenya disse que a demissão foi a "decisão lógica" depois do vídeo que gravou afirmando o seu apoio aos protestos que se sucedem na Bielorrússia desde as contestadas eleições de 9 de agosto, que deram um sexto mandato a Lukashenko, no poder há 26 anos.
No depoimento em vídeo, divulgado no sábado, Leschchenya manifestou "solidariedade com os que saíram à rua nas cidades bielorrussas em marchas pacíficas para que a sua voz seja ouvida".
O embaixador disse ainda estar chocado com a violência e a tortura dos manifestantes e acusou as forças policiais da Bielorrússia de recorrerem a métodos da polícia secreta soviética.
"Como embaixador, sou nomeado pelo Presidente e é esperado que siga as políticas por ele decididas. O Ministério dos Negócios Estrangeiros [da Bielorrússia] considera que a minha atitude cívica ultrapassou isso", disse hoje o embaixador ao ‘site’ de notícias independente bielorrusso Tut.by.
Igor Leshchenya, 52 anos, foi o primeiro alto funcionário a apoiar publicamente os protestos contra Lukashenko, que obteve, segundo números oficiais, 80% dos votos.
A sua principal rival, Svetlana Tikhanovskaya, a quem foram atribuídos 10% dos votos, denunciou a eleição como fraudulenta e exigiu a recontagem dos votos.
Milhares de pessoas têm-se manifestado por todo o país, apesar da repressão violenta pela polícia, que nos primeiros quatro dias de protestos deteve quase 7.000 pessoas e feriu centenas com balas de borracha, granadas de atordoamento e bastões.
Pelo menos dois manifestantes morreram.
Svetlana Tikhanovskaya exilou-se na Eslováquia e, na segunda-feira, anunciou que está preparada para dirigir a Bielorrússia e realizar novas eleições.
Lukashenko, que dirige o país desde 1994, recusa abandonar o poder e afirmou na segunda-feira que pode convocar novas eleições, mas apenas depois de um referendo constitucional.