Secções
Entrar

Perfil: Quem é o operário Jerónimo de Sousa

04 de dezembro de 2016 às 12:48

Há 12 anos como secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, 69, foi hoje novamente eleito pelos seus "camaradas", previsivelmente até 2020

Há 12 anos como secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, 69, foi hoje novamente eleito pelos seus "camaradas", previsivelmente até 2020, lucrando da empatia para com e entre os seus, "os trabalhadores e o Povo".

Ao intelectual e histórico Álvaro Cunhal (1961-1992) seguiu-se o economista de cátedra Carlos Carvalhas (1992-2004), mas Jerónimo, que faz questão de recusar título de doutor quando alguém lho atribui, pretende ser "só mais um" entre a classe operária.

Os constantes adágios populares aproximam-no das populações, além do respeito e afabilidade de que goza por parte de muitos de outras "cores" partidárias. Os membros do partido elogiam-lhe a capacidade política e de comunicação, mas também o sentido de humor, sempre com uma "estória" ou piada na ponta da língua.

A declaração na noite eleitoral de Outubro de 2015, de que, "com este quadro, o PS tem condições para formar Governo, mas têm de perguntar ao PS", o mês de negociações com o socialista António Costa para o acordo inédito de governação à esquerda - juntamente com entendimentos socialistas com BE e PEV - foi o último "trunfo" jogado por Jerónimo, sublinhando sempre diferenças face ao partido "rosa".

O PCP, com Carvalhas na liderança, passou dos 8,8% de votos (17 mandatos no parlamento) em 1991 para 6,94% (12) nas legislativas de 2002. Após Jerónimo ser eleito líder comunista, já depois de candidato à Presidência da República (1996) - quando desistiu em favor do socialista Jorge Sampaio -, o partido, sempre com "Os Verdes", na Coligação Democrática Unitária (CDU), cresceu para 7,14% (14) em 2005, 7,86% (15) em 2009, 7,9% (16) em 2011 e 8,25% (17) em 2015.

O líder do PCP voltou a ter uma bancada com os mesmos 17 deputados do início da década de 1990, porém o BE atingiu 19 mandatos, em Outubro de 2015, tendo ainda a candidata presidencial bloquista, Marisa Matias, alcançado o terceiro lugar (10,12%), enquanto o comunista Edgar Silva se ficou pelo quinto posto (3,95%), em Janeiro último.

Antigo afinador de máquinas numa empresa metalúrgica e dirigente sindical, Jerónimo Carvalho de Sousa, nasceu em 13 de abril de 1947, criado pela mãe biológica, "a velha Olímpia" Jorge Carvalho, e seu marido António de Sousa. Sempre viveu em Pirescôxe, Santa Iria de Azóia, Loures.

Baptizado pela Igreja Católica e com o quarto ano do antigo curso industrial, ao mesmo tempo que trabalhava (desde os 14 anos de idade), após ser um dos mais assíduos às passagens da carrinha-biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian, Jerónimo casou-se aos 19 anos com Ovídia e é pai de duas filhas, Marília e Lina, tendo dois netos pré-adolescentes, Rui Pedro e Rita, e um mais recente "rebento", Gabriel.

O futuro líder comunista ajudou a fundar e dirigir Associação Cultural e Desportiva local em Pirescôxe e ainda hoje exerce o seu direito de voto no Grupo Desportivo da terra, aproveitando para jogar às cartas e conviver com velhos amigos dos tempos de teatro e dança na colectividade 1.º de Agosto de Santa Iria.

Entre 1969 e 1971, o secretário-geral do PCP, benfiquista e fã da banda inglesa The Beatles, cumpriu o serviço militar, com uma incursão ao difícil cenário da guerra colonial na Guiné-Bissau.

Logo em 1975, um ano depois de ter aderido ao PCP, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte e continua, hoje em dia, como deputado na Assembleia da República. Jerónimo foi eleito para o Comité Central do PCP no IX Congresso Nacional (1979) e integrou a Comissão Política comunista desde o XIV Congresso (1992).

Novamente candidato à Presidência da República em 2006, foi eleito líder comunista no XVII Congresso Nacional (2004), também em Almada, sucedendo a Carvalhas, que fora o escolhido para substituir o histórico Álvaro Cunhal, em 1992.

Os comunistas já o reelegeram duas vezes, em 2008 (Lisboa) e 2012 (igualmente em Almada), antes da consagração de hoje.

Em diversas entrevistas, nos últimos quatro anos, nomeadamente à agência Lusa, o secretário-geral do PCP, apesar das dúvidas colocadas por alguns órgãos de comunicação social, especialmente na campanha das eleições legislativas de 2015, quando questionaram a sua forma física, sempre mostrou "disponibilidade grande" para continuar.

Jerónimo continua com o hábito de fumar e para o auxiliar em alguns dos, por vezes, longos discursos, recorre ao licor português Brandymel para ajudar a ginasticar as cordas vocais.

"É evidente que não serei eterno, mas aquilo que acolho, de contacto com o partido e com o povo português - muitos não sendo militantes comunistas, amigos do partido ou até mesmo fora desse universo - é que o incentivo é para continuar", afirmou, numa das entrevistas.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela