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Os professores de português que resistem à crise venezuelana

02 de novembro de 2019 às 18:36

O número de alunos e resiliência de professores de português na Venezuela surpreenderam positivamente docente em Espanha.

O elevado número de alunos e a resiliência dos professores de português na Venezuela, um país que atravessa uma grave crise, surpreendeu pela positiva a catedrática Paula Isidoro, que está de visita à cidade de Maracay.

"É uma coisa que realmente me surpreendeu muito, o número de alunos que estudam português na Venezuela e o interesse dos professores", disse à Lusa a professora de Português na Universidade de Salamanca, Paula Cristina Pessanha Isidoro, que participou no II Congresso e VI Encontro de Professores de Língua Portuguesa, que reuniu quase uma centena de docentes na cidade de Maracay (100 quilómetros a oeste de Caracas).

"Que continuem com esta atitude que têm. Resiliência. Há dificuldades, mas há dificuldades aqui e noutros sítios, de natureza diferente. Então, continuem este trabalho. Estão a fazer um bom trabalho", disse.

A docente sublinhou que "os alunos deveriam estar muito contentes com o tipo de professores que têm aqui", porque "são professores que realmente estão empenhados, que querem saber, que fazem uma reflexão ativa sobre a sua própria prática didática".

Por outro lado, explicou que está na Venezuela "com a missão de falar sobre escrita criativa e estratégias de escrita criativa no ensino do português como língua estrangeira".

"A ideia é criar algumas dinâmicas de trabalho que motivem mais os alunos para a parte da expressão escrita, que normalmente é algo que para os alunos é muito motivador. Então, a ideia é, através de jogos, desafios, contos que já existem, de poesia, trabalhar a escrita na sala de aula de uma forma mais criativa", disse.

Questionada sobre as dificuldades dos venezuelanos no acesso à Internet em Caracas e no interior do país, explicou que "as novas tecnologias neste caso não têm muita interferência".

"O material que preparei, preparei-o todo em papel para as pessoas verem o que se pode fazer simplesmente com um lápis e uma folha de papel. O que é preciso é ser mais observadores, observar mais a realidade à volta e fazer trabalhar a imaginação e há várias técnicas para fazer trabalhar mais a imaginação, mais criatividade e não é preciso o uso das tecnologias", frisou.

Por exemplo, explicou, "uma das estratégias tem a ver com textos a partir de desafios".

"Nós temos trabalhado muito na Universidade de Salamanca com uma escritora portuguesa que é a Margarida Fonseca Santos. Ela tem blogue no qual propõe desafios em que as pessoas só podem escrever em 77 palavras, nem mais uma, nem menos uma, e os desafios podem ser, por exemplo, imaginar que na sua cozinha, um dos seus eletrodomésticos decide fazer greve. Como seria o seu dia? Ou seja, são coisas que realmente servem para brincar com a língua e o facto de escreverem em 77 palavras obriga os alunos a procuraram muito mais estratégias linguísticas para compensar o número limitado de palavras que têm que usar", descreveu.

Com esse propósito trabalham "também muito a partir da pintura, com quadros, por exemplo, do pintor Rui Carruço" e "de poesia, utilizando a estrutura de poemas que já existem para os alunos escreverem", exemplificou.

"Isso é uma coisa que motiva imenso os alunos, quando eles conseguem escrever um poema sentem-se muito orgulhosos, ainda por cima um poema numa língua estrangeira", relatou.

Paula Isidoro sublinhou ainda que agradeceu o convite do Camões - Instituto de Cooperação e da Língua para "conhecer esta realidade", uma vez que trabalha com alunos cuja língua materna é o espanhol", tal como na Venezuela.

"Isto permite-me ver e pôr em prática estratégias que eu utilizo num contexto completamente diferente, mas partindo da mesma base que é o espanhol como língua materna. Para mim é muito enriquecedor esta partilha. Alguns professores já puseram em prática algumas das estratégias que eu propus", acrescentou.

Segundo o coordenador do ensino da Língua Portuguesa em Caracas, Rainer Sousa, na Venezuela existem aproximadamente uma centena de professores de português, que dão aulas a 3.400 alunos em diferentes níveis.

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