Morreu o sociólogo polaco Zygmunt Bauman
O criador do conceito da "modernidade líquida" morreu "na sua casa de Leeds, junto da família", publicou nas redes sociais a também socióloga polaca Aleksandra Kania
O sociólogo e filósofo polaco Zygmunt Bauman morreu esta segunda-feira aos 91 anos, na cidade inglesa de Leeds, noticiou o diário Gazeta Wyborzca, que inclui o pensador entre os intelectuais "fundamentais para entender o século XX".
O criador do conceito da "modernidade líquida" morreu "na sua casa de Leeds, junto da família", publicou nas redes sociais a também socióloga polaca Aleksandra Kania, que com ele colaborou em diversas ocasiões.
Professor emérito de Sociologia da Universidade de Leeds, onde trabalhou mais de 30 anos, e laureado com o prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação 2010, entre outras distinções, Bauman apresentou na sua obra uma visão crítica da sociedade pós-moderna e globalizada.
Nascido em Poznan, Polónia, a 19 de Novembro de 1925, numa família judia que se mudou em 1939 para a União Soviética para fugir aos nazis, Zygmunt Bauman alistou-se no exército polaco, na frente russa, e regressou depois ao seu país, onde durante anos deu aulas de Filosofia e Sociologia na Universidade de Varsóvia.
Aos 19 anos, tornou-se militante do Partido Comunista, ao qual esteve ligado até 1967, e durante três anos serviu no chamado "exército interno", a força encarregada de "reprimir o terrorismo no interior do país".
Durante 15 anos, foi perseguido pelos serviços secretos polacos, foi expulso da universidade e proibido de publicar.
No decurso de uma purga antissemita em 1968, ele e a mulher, Janina, perderam os respectivos empregos na Polónia e viram-se obrigados a exilar-se em Israel, onde começou a leccionar na Universidade de Telavive.
Depois de dar aulas de Sociologia nos Estados Unidos e no Canadá, em 1971 mudou-se para Inglaterra, para ser professor na Universidade de Leeds.
Ao longo da sua carreira como escritor, que iniciou nos anos 1950, desenvolveu uma sociologia crítica e emancipadora em que abordou temas como as classes sociais, o socialismo, o Holocausto, a hermenêutica, a modernidade e a pós-modernidade, o consumismo e a globalização.
Da sua obra, destacam-se "A Liberdade" (1989), "A Modernidade Líquida" (2001), "Europa, uma aventura inacabada" (2006), "Ética Pós-Moderna" (2006), "Tempos Líquidos" (2007), "Vida de Consumo" (2007) e "Amor Líquido: acerca da fragilidade das relações humanas" (2008).
No livro "Viver com o Tempo Emprestado", publicado em 2009, analisa o estado actual e os desafios que enfrenta um mundo globalizado em que tudo, a natureza e o próprio ser humano, parece ter-se transformado em mercadoria e os seres humanos são meros consumidores.
No seu último livro, editado em Novembro de 2016, um ensaio breve intitulado "Estranhos batendo à porta", o pensador debruçou-se sobre a crise dos refugiados, a perda de direitos e a política de construção de muros em vez de pontes.
Nessa reflexão sobre as origens, a periferia e o impacto das actuais vagas migratórias, Bauman culpou os políticos de se aproveitarem do medo dos pobres e garantiu que a política de construção de muros, que pode dar uma sensação de tranquilidade temporária, está condenada a fracassar a longo prazo.
Entre outras distinções, Bauman recebeu os prémios Amalfi de Sociologia e Ciências Sociais (1992) e Theodor W. Adorno (1998).
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