Jornalista arrisca-se a dez anos de prisão por comunicar com dissidente
Um jornalista etíope foi considerado culpado em tribunal por incitação à revolta, por ter comunicado com um opositor ao regime
Getachew Shiferaw, chefe de redacção de um jornal etíope foi detido em 2015. O jornalista era acusado de incitar à revolta por ter comunicado com um elemento de um grupo da oposição classificado como terrorista pelas autoridades da Etiópia.
Shiferaw comunicou com Abebe Belew, condenado à reveleia pelo Estado da Etiópia em 2012 por ser membro do grupo da oposição Ginbot7. Belew estava exilado nos Estados Unidos quando Shiferaw terá entrado em contacto com ele através do Facebook.
O jornalista foi acusado no âmbito de uma controversa lei anti-terrorista instaurada na Etiópia. Instituições internacionais informam que esta lei é apenas um meio de fazer calar qualquer dissidência das associações de defesa dos direitos humanos e dos Estados Unidos
O editor de redacção corre o risco de ser condenado a dez anos de prisão. O veredicto será anunciado na sexta-feira.
ao abrigo
As acusações iniciais por terrorismo foram abandonadas pelo tribunal, mas, segundo o advogado do jornalista, Ameha Mekonnen, a justiça deu como provado que uma das mensagens trocadas visava "impedir responsáveis do Governo de cumprirem a sua missão".
"Getachew desde sempre negou ter feito esse tipo de comunicação. E mesmo que a tenha feito, terá sido no âmbito da liberdade de expressão, o que nada tem que ver com um comportamento criminoso", frisou o advogado.
De acordo com o jurista, o jornalonline do jornalista está ligado ao partido Semayawi (Partido Azul), um dos partidos da oposição na Etiópia.
A directora regional da Amnistia Internacional, Muthoni Wanyeki, condenou hoje "um novo golpe contra a justiça".
"Getachew Shiferaw nada mais fez além de partilhar informações disponíveis publicamente. Condená-lo por incitação à revolta, crime passível de uma pena de dez anos de prisão, longe da família, é cruel e inaceitável", declarou a responsável da organização de defesa dos direitos humanos em comunicado.
A detenção do jornalista ocorreu numa altura de manifestações de jovens Oromo, a etnia mais numerosa do país, em protesto contra um projecto de expansão geográfica da capital, Adis Abeba.
As manifestações, ligadas a outras na região de Amhara, no norte da Etiópia, e violentamente reprimidas pelo regime, fizeram perto de 700 mortos, segundo as próprias autoridades, e levaram o Governo a decretar o estado de emergência em Outubro de 2016 e a renová-lo por quatro meses em Março de 2017.
Na semana passada, o antigo porta-voz do partido Samayawi foi considerado culpado de "incitação ao terrorismo", devido a comentários publicados na sua conta no Facebook.
Yonatan Tesfaye tinha também sido detido em 2015 depois de ter acusado a coligação no poder "de usar a força contra o povo, em vez de privilegiar o diálogo pacífico com a opinião pública".
O juiz deverá emitir a sua sentença na quinta-feira, podendo Tesfaye ter de cumprir entre dez e 20 anos de prisão.
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