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Homo Sapiens usou arco e flecha na Europa 40 mil anos mais cedo do que relatado

Lusa 23 de fevereiro de 2023 às 07:51

Em África, o uso de arcos e flechas foi documentado desde há 70.000 anos, mas, na Europa, até agora, a evidência mais antiga tinha entre 10.000 e 12.000 anos.

O humano moderno -- Homo Sapiens -- utilizou arcos e flechas na Europa há 54.000 anos, 40.000 anos mais cedo do que documentado anteriormente, de acordo com um estudo que apresenta evidências recolhidas numa caverna no sul de França.

REUTERS/Christa Cameron

Em África, o uso de arcos e flechas foi documentado desde há 70.000 anos, mas, na Europa, até agora, a evidência mais antiga tinha entre 10.000 e 12.000 anos, na Alemanha, de acordo com um estudo publicado esta quarta-feira na revista Science Advances.

Este novo estudo é retirado de ferramentas encontradas na caverna Mandrin, em Drôme. O local foi escavado desde 1990, e várias camadas arqueológicas traçam mais de 80.000 anos de ocupação do local, onde o Homo Sapiens, o homem moderno, e o homem de Neandertal, viveram alternadamente.

Uma camada, chamada "E", foi atribuída à presença do Homo Sapiens há 54.000 anos, preso entre duas camadas que demonstram a presença de Neandertais.

No entanto, centenas de pontas de pedra lapidadas foram encontradas nesta camada "E", com uma delicadeza de execução superior às presentes nas outras camadas.

Estas pontas revelaram-se a chave para os investigadores, porque os outros materiais utilizados para o tiro com arco, como madeira, fibras ou couro, são muito mais frágeis e, por isso, desaparecem com o tempo, tornando geralmente difícil a identificação desta técnica.

Para verificar a função dessas pontas, algumas destas menores que uma moeda, os cientistas realizaram réplicas e instalaram-nas em pontas de flechas, utilizando um arco em animais mortos.

"Só podíamos projetá-las nos animais com um arco, porque eram muito pequenas e leves para serem eficazes", explicou à agência France-Presse (AFP) Laure Metz, investigadora da Universidade de Aix-Marseille e principal autora do estudo.

"Tivemos que utilizar esse método de propulsão", acrescentou.

Além disso, as fraturas obtidas nas extremidades das réplicas, devido ao contacto com o osso do animal, foram então comparadas com as observadas nas pontas de pederneira encontradas na caverna.

"As fraturas, em muitas destas, se não para todas, foram fraturas de impacto", sublinhou Laure Metz.

Na altura, os ocupantes da caverna tinham que caçar cavalos, bisontes e veados, sendo que ossos de animais foram encontrados no interior.

A chegada do Homo Sapiens à Europa Ocidental foi antecipada para cerca de 54.000 anos atrás, graças às descobertas feitas na Caverna Mandrin.

Os investigadores mostraram, no estudo anterior, que as duas espécies humanas ocuparam o local alternadamente.

Os Sapiens e os Neandertais ter-se-ão provavelmente cruzado, segundo Laure Metz, sem que seja possível dizer qual pode terá sido "a natureza do seu encontro", pacífica ou não.

Mas os Neandertais que habitaram a caverna depois do Homo Sapiens continuaram a usar armas tradicionais, como lanças, sem desenvolver técnicas de propulsão, referiu.

"As tradições e tecnologias dessas duas populações eram, portanto, profundamente distintas, ilustrando uma notável vantagem tecnológica para as populações modernas durante sua a expansão no continente europeu", concluíram os autores do estudo.

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