Ainda existe uma geração à rasca cinco anos depois do protesto?
Uma das organizadoras da manifestação em vários pontos do país acha que os recibos verdes são "o novo método de contratação nacional"
Cinco anos depois da manifestação Geração à rasca, os organizadores do protesto afirmam que os jovens ainda estão "mais à rasca" devido ao agravamento da precariedade laboral, mas estão confiantes que o actual Governo consiga alterar a situação.
A 12 de Março de 2011, realizou-se pela primeira vez um protesto convocado nas redes sociais e não vinculado a partidos políticos ou sindicatos, conseguindo reunir o maior número de manifestantes nas ruas desde o 25 de Abril de 1974.
Cerca de 500 mil pessoas participaram nas manifestações da Geração à rasca em todo o país para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim da precariedade e, apesar de hoje a situação se ter agravado, os organizadores consideram que "valeu a pena" o protesto.
Questionada pela agência Lusa, se passados cinco anos da manifestação ainda existe uma geração à rasca, Paula Gil, uma dos quatro jovens que organizou o protesto, respondeu: "Claro que sim e cada vez mais".
"Os últimos quatros anos de governo demonstraram que a única forma de contratação no país era a precariedade, se não fosse essa precariedade estávamos limitados ao desemprego ou então à emigração", disse Paula Gil, que continua a ter um trabalho precário.
A activista adiantou que "a precariedade laboral intensificou-se" devido "a uma estratégia de desvalorização do trabalho".
"Hoje em dia as pessoas trabalham por muito menos dinheiro, com muito menos condições, com muitos menos direitos, exactamente porque o desemprego é tão grande", sustentou.
Apesar de a situação se ter agravado, Paula Gil afirmou que a manifestação "valeu a pena", uma vez que demonstrou que "era possível organizar pessoas em conjunto, independente do valor que os sindicatos e partidos têm para a nossa democracia".
"Mesmo assim acho que valeu a pena organizar aquela manifestação pela organização popular, pela noção de que é possível fazer democracia fora de estruturas organizadas e pelo enquadramento que as pessoas sentiram quando saíram à rua ao defenderem o seu trabalho e os seus direitos, mas sobretudo porque colocou, na altura, a precariedade na agenda política, que era uma coisa que não acontecia", disse.
A activista salientou que a questão da precariedade laboral está actualmente na agenda política e existe "uma preocupação constante em mencioná-la".
Nesse sentido, manifestou expectativa no actual Governo e espera que o acordo parlamentar com os partidos de esquerda "traga algumas alterações" aos direitos dos trabalhadores.
"Acha que há bastante expetactiva criada em volta deste Governo. É um Governo que conta com o apoio do BE e do PCP", afirmou, avançando que o combate à precariedade laboral é "uma questão de vontade política".
"São várias situações ilegais que até agora foram formalizadas e autorizadas por todos os governos que tivemos no parlamento. Para se manter a ideia de que temos um Governo de esquerda, terá que se tomar uma atitude em relação à situação da precariedade laboral da maioria dos jovens", disse.
Para a activista, uma "boa forma de demonstrar vontade política" passa por "alterar o regime de impostos dos recibos verdes".
Paula Gil considerou ainda que actualmente é "possível existir uma manifestação como aquela que aconteceu há cinco anos". No entanto, sustentou que é necessário aguardar para ver quais as iniciativas que o Governo vai tomar na área de trabalho.
"Mas é sempre possível haver uma manifestação em torno da questão da precariedade, até porque cada vez mais há falsos recibos verdes. É o novo método de contratação nacional", concluiu.
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