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Agência EFE pede perdão aos vencidos da Guerra Civil

30 de abril de 2019 às 14:26

O presidente da EFE homenageou os exilados e vencidos da Guerra Civil, a quem pediu perdão por os ter ignorado quando há 80 anos a agência noticiosa era um instrumento de propaganda franquista.

O presidente da EFE quis hoje saldar uma "dívida histórica" homenageando os exilados e vencidos da Guerra Civil, a quem pediu perdão por os ter ignorado quando há 80 anos a agência noticiosa era um instrumento de propaganda franquista.

Fernando Garea fez estas declarações na presença de Felipe VI, durante a cerimónia de entrega dos prémios internacionais de jornalismo Rei de Espanha, que decorre em Madrid e na qual foi distinguido o repórter fotográfico da agência Lusa Nuno André Ferreira, entre outros.

A cerimónia da 36.ª edição dos prémios internacionais e do 15.º galardão Don Quixote, promovidos pela EFE e pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid), coincide este ano com o 80.º aniversário do final da Guerra Civil e da fundação da agência pública.

Garea recordou que a EFE nasceu como uma ferramenta de propaganda franquista que "esquecia" uma parte da guerra e os perseguidos pela ditadura.

"É o momento de a EFE aproveitar a oportunidade para saldar uma dívida histórica e prestar tributo aos exilados, aos que foram alvo de represálias e aos vencidos da Guerra Civil. Aqueles dos quais não se ocupou e que ignorou há 80 anos, quando Espanha era um país negro, sem outra cor para além do vermelho do sangue de muitas e muitos", afirmou o presidente da agência.

Na sua opinião, este grupo foi "esquecido e proscrito por todas as instituições" e também pela agência EFE, "que só falava dos vencedores".

"Também é altura de aproveitar para lhes pedir perdão e para os recordar", acrescentou Garea, cuja intervenção recebeu uma forte ovação.

O presidente da EFE congratulou-se por poder entregar o prémio de rádio à série "Vidas enterradas", emitida pela Cadena SER em junho do ano passado e baseada em testemunhos de vítimas do franquismo, e pelo facto de a Espanha de hoje "não ter nada a ver" com a de há 80 anos e de a EFE ser atualmente uma agência "respeitada no mundo" e da qual "todos podem sentir-se orgulhosos".

O presidente da agência de notícias pública, que assumiu o cargo em julho do ano passado, sublinhou que EFE está em pleno processo de mudança com o objetivo de ser um fornecedor de conteúdos assente no "prestígio conseguido durante décadas" graças ao trabalho de milhares de jornalistas.

Alguns dos trabalhos hoje distinguidos são, segundo Garea, exemplo das novas formas de fazer jornalismo e também de "exercer a democracia", ao "chamar a atenção para poderes sem controle" e fazer-lhes contraponto.

"Os procedimentos, as novas tecnologias e os formatos são importantes, mas sem as famosas dupla verificação, três fontes e contraditório e sem rigor não há jornalismo", sustentou.

Neste processo de mudança do jornalismo, Fernando Garea defendeu o trabalho de verificação para combater as notícias falsas e, no caso da EFE, mantendo "o compromisso de neutralidade" a que está obrigada como meio de comunicação público.

Na luta contra a desigualdade na qual deve participar também o jornalismo, o presidente da EFE defendeu a eliminação de determinados termos e estereótipos ao abordar temas como o combate contra o machismo ou a imigração.

Garea defendeu ainda o jornalismo e o trabalho dos seus profissionais após anos "submetidos a sacrifícios de todo o tipo, desde o desprezo da sua profissão a, talvez, também algum desleixo" dos próprios meios que é preciso "admitir e corrigir".

"Façamos com que, entre todos, o trabalho do jornalista se dignifique, após um período de pesadelo, de precarização e de falta de referências nas redações", defendeu.

Com os prémios internacionais de jornalismo, Garea reafirmou a vocação da EFE como agência internacional focada especialmente na América Latina e na projeção da língua espanhola.

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