Secções
Entrar

Associação assistente no processo da morte de trabalhador na A6 quer responsabilizar Cabrita

11 de janeiro de 2022 às 18:47

Advogado da ACA-M, Paulo Graça, considera que deve ser deduzida acusação penal contra o antigo ministro da Administração Interna "pela prática, em autoria paralela e por omissão, do crime de homicídio por negligência".

A Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M), que é assistente no processo do atropelamento mortal de um trabalhador na A6, quer responsabilizar o ex-ministro Eduardo Cabrita, considerando que, por omissão, cometeu um crime de homicídio por negligência.

A associação, cujo pedido de constituição como assistente foi deferido na segunda-feira, entregou hoje um requerimento de intervenção hierárquica, ao magistrado do Ministério Público coordenador da comarca de Évora, para tentar responsabilizar o ex-ministro.

No requerimento, ao qual a agência Lusa teve acesso, o advogado da ACA-M, Paulo Graça, considera que deve ser deduzida acusação penal contra o antigo ministro da Administração Interna "pela prática, em autoria paralela e por omissão, do crime de homicídio por negligência".

Cabrita, como superior hierárquico de Marco Pontes, o motorista que conduzia o automóvel em que seguia e que atropelou mortalmente o trabalhador Nuno Santos na Autoestrada 6 (A6), tinha "poder legal para lhe dar ordens e instruções e exigir obediência às mesmas", pode ler-se.

Mas, no dia do acidente, ocorrido a 18 de junho de 2021, na A6 entre Estremoz e Évora, o ex-ministro "omitiu dar-lhe ordens ou instruções", que tinha também "o dever legal de dar", para "adequar a velocidade da viatura às condições da via e para circular pela via da direita".

Cabrita, contudo, não pode "alhear-se da forma concreta como Marco Pontes conduzia" o automóvel, afirma o advogado.

"Com tal omissão, que é ilícita, quer por violar as disposições legais", quer "por ter criado um risco acrescido para a vida e integridade física dos trabalhadores" que se encontravam na A6, Eduardo Cabrita "violou o dever de garante que sobre si impedia", diz, no requerimento.

E essa "omissão ilícita" foi "causa direta e necessária do embate da viatura em Nuno Santos e do óbito deste", considera Paulo Graça.

No pedido, o advogado lembra que a magistrada do Ministério Público responsável pelo inquérito só deduziu acusação contra o motorista, pela prática de um crime de homicídio por negligência e duas contraordenações.

"Não só não constituiu arguido senão este, como não lavrou despacho de arquivamento relativamente a mais ninguém", afirma.

De seguida, Paulo Graça apresenta jurisprudência do Tribunal da Relação de Évora para justificar o recurso à reclamação hierárquica, a via que resta a um assistente quando pretende o "apuramento de responsabilidades de quem não tenha sido devidamente investigado", uma vez que, neste caso, não pode pedir a abertura de instrução para responsabilizar Cabrita.

O ex-ministro "foi apenas inquirido como testemunha", não se "tendo em nenhum momento cogitado a possibilidade de o inquérito seguir tendo em vista o apuramento da sua responsabilidade criminal", afirma.

E não foi "lavrado despacho de arquivamento dos autos" contra o ex-ministro "que permitisse ao assistente suscitar o respetivo controlo por via de requerimento de abertura de instrução", diz o advogado.

O requerimento de intervenção hierárquica é, por isso, o meio "próprio para lograr" que seja deduzida "acusação contra Eduardo Cabrita", segundo Paulo Graça, considerando que "os autos contêm matéria" que permite acusar o ex-governante "pelo crime de homicídio por negligência cometido por omissão".

Paralelamente à intervenção hierárquica, o advogado da ACA-M requereu, na semana passada, ao juiz de instrução criminal titular do processo que a acusação a Marco Pontes considere que o automóvel por si conduzido seguia, não a 166 quilómetros por hora, como disse o MP no despacho de acusação, mas a "mais de 180 quilómetros/hora".

No dia 03 de dezembro de 2021, o MP revelou ter deduzido acusação contra o motorista de Eduardo Cabrita, que, nesse mesmo dia, se demitiu, tendo, entretanto, no início de janeiro, o advogado da família do trabalhador que morreu no acidente adiantado que requereu a abertura de instrução do processo, para "conseguir a pronúncia da responsabilidade criminal" do ex-ministro.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela