Sábado – Pense por si

Sócrates é o político mais visado em escândalos em 40 anos de democracia

23 de dezembro de 2015 às 10:38
As mais lidas

Tese de doutoramento analisou a cobertura de semanários de referência durante o período de 25 de Abril de 1974 a 25 de Abril de 2014

Em 40 anos de democracia, o ex-primeiro-ministro José Sócrates é o político mais visado em escândalos políticos na comunicação social, tanto em frequência de peças, como em número de casos, conclui uma tese de doutoramento da Universidade de Coimbra.

A tese, intituladaA mediatização do escândalo político em Portugal no período democrático, analisou o período de 25 de Abril de 1974 a 25 de Abril de 2014 a partir da cobertura de semanários de referência, além de ter identificado 99 casos de escândalo político e 126 protagonistas a partir da pesquisa e análise de 4.739 peças doExpresso,O Jornal,O Independente eSol.

José Sócrates é o protagonista "mais visado", disse à agência Lusa o autor da tese, Bruno Paixão, sublinhando que para este estudo, cuja análise terminou a 25 de Abril de 2014, não foram abordados outros casos mediáticos, como a Tecnoforma, que visa Passos Coelho, a Operação Marquês (José Sócrates) ou os vistos Gold (Miguel Macedo).

Com maior número de peças está Sócrates, seguido de Armando Vara (PS), Isaltino Morais (PSD), Leonor Beleza (PSD), Carlos Melancia (PS), Paulo Portas (CDS), Paulo Pedroso (PS), Costa Freire (PSD), Fátima Felgueiras (PS) e Duarte Lima (PSD).

No número de casos, volta a aparecer Sócrates, com nove casos, seguido de Armando Vara e Mário Lino (PS), com cinco casos, Paulo Portas, Duarte Lima, Paulo Penedos (PS) e Nobre Guedes (CDS), com quatro, e depois Miguel Relvas (PSD), Rui Pedro Soares (PS), Abel Pinheiro (CDS), Cavaco Silva (PSD) e Mário Soares (PS), com três.

"Os ataques à justiça e aos media não devem ser desvalorizados. [José Sócrates] tanto tem amigos para a vida como inimigos para a vida e isso é perceptível na forma como é tratado", apontou.

O investigador frisou que num inquéritoonline que realizou para a tese três semanas após a detenção de Sócrates, ao qual responderam 1.436 pessoas, apenas 04% dos inquiridos afirmaram achar que este estaria inocente.

O sistema judicial, "ao deixar que saiam informações em segredo de justiça para as páginas de jornais, permite que sejam feitos julgamentos mediáticos, independentemente do desfecho" em tribunal, sublinhou.

"O maior desafio", na sua perspectiva, centra-se na necessidade de se debater a forma como é fornecida informação por parte da justiça e os critérios utilizados para que esta seja transmitida. "Terá de se pensar no segredo de justiça e tomar importantes decisões: ou se mantém e se pune quem o prevarica ou então abre-se o segredo de justiça".

Segundo Bruno Paixão, o escândalo político tem aumentado de década para década, sendo que de 2004 a 2014 verificou-se a maior fatia de peças sobre escândalos políticos (57,9%), mas esta percentagem distancia-se do número de casos ocorridos (43,4%). "Os media hiperbolizam os casos", conclui o estudo.

Na investigação de Bruno Paixão, em 99 escândalos identificados 67 estão relacionados com poder (com mais de metade sobre actos que visam o proveito próprio do político), 21 do foro financeiro (fuga ao fisco e interesses financeiros privados não declarados), dez de conduta e um de natureza sexual (Casa Pia).

A tese foi realizada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!

As 10 lições de Zaluzhny (I)

O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.