Os moradores e comerciantes de Miragaia, no Porto, foram acordados pelas autoridades depois de o rio Douro ter galgado as margens, devido à depressão Elsa.
Os moradores e comerciantes de Miragaia, no Porto, foram acordados esta madrugada pelas autoridades, depois das águas do rio Douro terem galgado as margens e inundado a zona, situação a que "já se foram habituando" e que "já não estranham".
Durante a manhã, e enquanto a chuva deu tréguas, muitos foram os moradores das arcadas de Miragaia que, desde as janelas e varandas, iam dizendo que "há anos que se habituaram a este cenário".
"Fui nascida e criada aqui, numa casa do rés-do-chão, por isso já sei o que isto é", atirou uma das moradoras que, acompanhada da irmã, dizia à Lusa já ter chorado hoje ao recordar os "tempos passados".
Enquanto trocavam impressões com uma vizinha da casa ao lado, tendo para isso de falar alto, dado a distância que as separava, as irmãs iam dizendo convictamente que a água estava a subir, baseadas numa marca existente numa parede em frente.
Mais abaixo, um pequeno grupo de pessoas, diante um café, ia recordando os "tempos antigos" e de como eram as cheias "há anos", embora sendo unânimes de que esta "também vai dar que falar".
"Era uma alegria quando víamos a água aqui. Íamos logo para a rua meter-nos no meio dela e, por causa disso, levei muita porrada da minha mãe", contava à Lusa Lurdes Pereira.
Mas se os moradores até já se habituaram a esta "normalidade", os comerciantes, esses, lamentam a situação e os prejuízos que estas inundações causam.
Proprietário do Café Mariana há mais de 10 anos, José Dantas disse que não conseguiu tirar tudo do estabelecimento porque, quando o avisaram, por volta das 06:50, já a água tinha atingido dez centímetros.
Lamentando a hora tardia a que foi alertado para a situação em Miragaia, o comerciante contava que só conseguiu retirar as máquinas do tabaco e das sobremesas e duas arcas frigoríficas, o resto ficou lá.
"Estava sozinho, não tinha quem me ajudasse a tirar as coisas, a sorte foi que apareceram dois vizinhos, mas mesmo assim ficou lá quase tudo", referiu.
José Dantas ressalvou os balcões e os frigoríficos que ficaram no interior, temendo agora os prejuízos que possa vir a ter, acrescentando a esses o facto de ter de estar encerrado para limpar os estragos e reparar o que houver para reparar.
Já Vanessa Campos, dona de um restaurante, teve mais sorte e conseguiu retirar do interior o que era mais importante, deixando apenas os balcões.
De vassoura na mão e galochas calçadas, a proprietária deve aos vizinhos o facto de ter "salvado a tempo" os equipamentos.
"Foram os vizinhos que me ligaram às 05:30 a dizer que a polícia municipal, os bombeiros e a proteção civil andavam pelas casas a avisar os moradores para o perigo de cheias", frisou.
À Lusa, estas autoridades confirmaram que andaram a percorrer "uma a uma" as casas e estabelecimentos em perigo de cheias, disponibilizando meios humanos e materiais.
As inundações em zonas ribeirinhas do rio do Douro, no Porto e Vila Nova de Gaia, deverão persistir ao longo do dia de hoje e no sábado, devido à necessidade de descargas das barragens, advertiu hoje a Autoridade Marítima.
"É expectável que durante todo o dia e o dia de amanhã [sábado] tenhamos situações pontuais de alagamentos nestas zonas que já estão identificadas. As populações estão prevenidas para estas ocorrências", alertou em conferência de imprensa o comandante Cruz Martins, da Capitania do Douro.
O comandante recordou que as águas do Douro não atingiam as zonas ribeirinhas destas duas cidades vizinhas desde 2006.
O rio Douro galgou hoje as margens e inundou zonas ribeirinhas do Porto e de Vila Nova de Gaia, como zonas pedonais e o Areinho e a Afurada.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) tem hoje sob aviso laranja (o segundo mais grave) 12 distritos de Portugal continental e a costa norte da Madeira devido sobretudo à agitação marítima. Leiria, Santarém e Portalegre estão sob aviso laranja também devido às previsões de precipitação forte durante a tarde.
O IPMA alertou para os efeitos de uma nova depressão, denominada Fabien, que atingirá Portugal no sábado, em especial o Norte e o Centro, estando previstos intensos períodos de chuva e vento forte de sudoeste, com rajadas que podem atingir 90 km/hora no litoral norte e centro e 120 km/hora nas terras altas.
Reportagem nas cheias do Porto: "Era uma alegria quando víamos a água aqui"
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