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Para além dos votos, chegaram cheques e contas da luz do estrangeiro

16 de outubro de 2019 às 18:03
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Estão 500 pessoas responsáveis pelas 158 mil cartas resposta que foram recebidas de entre um universo de 1,4 milhões de eleitores recenseados no estrangeiro. Serão apurados os quatro últimos deputados do novo Parlamento.

Dentro dos mais de 150 mil envelopes que chegaram à assembleia de apuramento dos votos dos círculos da emigração, em Lisboa, não estão apenas boletins de voto e até contas e cheques apareceram. Para exercer o seu direito de voto, os eleitores portugueses residentes no estrangeiros deveriam enviar de volta para Portugal a documentação que receberam em casa -- um envelope verde com o boletim de voto, dentro de um envelope branco, com uma cópia do cartão de cidadão.

Mas algumas pessoas resolveram inovar e acrescentaram alguns itens no mínimo insólitos: "Já encontrámos um cheque, já encontrámos duas folhas de pensão, uma conta para pagar de luz", tudo na mesma mesa, conta aos jornalistas Joaquim Morgado, secretário-geral adjunto para a Administração Eleitoral, indicando que estes documentos foram guardados e serão devolvidos a quem os remeteu. No pavilhão municipal do Casal Vistoso, em Lisboa, estão montadas 100 mesas para apuramento de resultados, 70 dedicadas ao círculo da Europa e 30 dedicadas ao círculo fora da Europa, cada uma com quatro ou cinco elementos, perfazendo um total de cerca de "500 pessoas associadas às mesas".

Aos membros de mesa juntam-se "cerca de 50 delegados que vêm presenciar e vêm também auditar todo o processo" e outras "cerca de 120 pessoas" para dar apoio ao processo, adiantou o responsável. Todas estas pessoas estão debruçadas sobre 158 mil cartas resposta que foram recebidas -- 5.800 deram entrada já hoje - de entre um universo de 1,4 milhões de eleitores recenseados no estrangeiro. A sua função é registar os envelopes, verificar quais os que têm condições legais para o voto poder ser considerado e, finalmente, fazer o apuramento dos resultados.

"Os trabalhos iniciaram-se às 9h00", referiu Joaquim Morgado, estimando que os resultados possam ser divulgados "cerca das 22h30". Os círculos da Europa e Fora da Europa elegem dois deputados cada um e, tradicionalmente, esses mandatos têm sido distribuídos entre PS e PSD. De acordo com o secretário-geral adjunto para a Administração Eleitoral, o processo está a decorrer de forma normal. Pelas 15:00, metade do procedimento estava feito, mas a contagem ainda não tinha arrancado.

"Os últimos números que eu tenho são de cerca de 47% [dos boletins] já registados", adiantou Joaquim Morgado, considerando que "os números em muitas mesas são muito agradáveis, muito boas surpresas, noutras também teremos que melhorar e teremos que ter aqui uma capacidade mais de intensificar este processo". "Até agora tudo está a correr normalmente, com as pequeninas situações que temos do dia-a-dia, do normal deste processo de votação", assinalou, destacando que, "comparando com há quatro anos", a participação é "muito maior".

O atual processo de apuramento dos votos dos emigrantes "é idêntico" aquele usado nas eleições legislativas de 2015, notou o secretário-geral adjunto da Administração Eleitoral, explicando que "a única diferença é que, face ao número de inscritos", estão a ser utilizados cadernos eleitorais desmaterializados, tecnologia usada para "o voto eletrónico em Évora", em vez dos tradicionais cadernos eleitorais em papel. Por isso, era possível ouvir, praticamente a cada segundo, um 'bip' em cada uma das duas salas onde estavam montadas as mesas de apuramento (uma para cada círculo), barulho feito de cada vez que o leitor registava um novo boletim.

Esta quarta-feira, a Assembleia de Recolha e Contagem dos Votos contou também com duas "mesas especiais", que "não vão fazer apuramento de resultados", mas sim tentar identificar o remetente de um boletim que não tenha chegado de acordo com as regras estipuladas. "Se houver condições legais para habilitar esse voto, ele é identificado, é encaminhado para a mesa respetiva, e a mesa respetiva acrescenta-o e contabiliza-o e delibera sobre esse voto", explicou Jorge Morgado, salientando que esta "é das ações mais nobres" realizadas no dia de hoje porque permitem salvar alguns votos.

Apontando que ali não é contada a abstenção, Joaquim Morgado sublinhou que "o valor importante a realçar aqui é a participação" dos emigrantes nestas legislativas.

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