Sábado – Pense por si

António Vitorino pode dirigir Organização Internacional das Migrações

27 de junho de 2018 às 10:53
As mais lidas

O novo director-geral da OIM será eleito em Genebra na próxima sexta-feira.

Os 169 Estados-membros da Organização Internacional das Migrações (OIM) elegem na sexta-feira o novo director-geral do organismo que desde 2016 integra a estrutura multilateral da ONU, figurando entre os três candidatos ao cargo o português António Vitorino.


A candidatura de Vitorino à liderança desta organização fundada no início da década de 1950 foi formalizada pelo Governo português em Dezembro do ano passado.

"A candidatura demonstra a relevância que Portugal atribui à temática e ao diálogo em matéria de migrações e à premente necessidade de serem encontradas soluções eficazes para os problemas migratórios no quadro internacional", justificou então o executivo de Lisboa, que apresentou o ex-ministro, ex-eurodeputado e ex-comissário europeu como "um profundo conhecedor da problemática das migrações".

Em Maio último, durante uma audição parlamentar, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, admitiu que a eleição era "muito difícil", realçando na mesma altura que Portugal ia trabalhar para obter o resultado desejado.

O novo responsável da OIM será eleito em Genebra (cidade que acolhe a sede da organização) por voto secreto e existirão as rondas necessárias até que um dos candidatos obtenha uma maioria de dois terços.

Na corrida à liderança da OIM está também o norte-americano Ken Isaacs - a organização foi sempre liderada por um representante dos Estados Unidos à excepção na década de 1960 quando um holandês assumiu o cargo - e a costa-riquenha Laura Thompson, a actual vice-directora-geral da organização.

O trabalho da diplomacia portuguesa tem sido desenvolvido em várias latitudes e em várias esferas de influência. Disso deu conta o próprio Santos Silva em Fevereiro passado quando em Moscovo (a Rússia tem estatuto de observadora na OIM e não vota) apresentou a candidatura de Vitorino ao seu homólogo russo, Serguei Lavrov.

Cerca de dois meses depois, e durante uma deslocação a Lisboa, o secretário-geral da Liga Árabe (organização que integra 22 Estados árabes), o egípcio Ahmed Aboul Gheit, disse, numa entrevista à Lusa, que as nações árabes estavam prontas para apoiar a candidatura de Vitorino.

Licenciado em Direito e mestre em Ciências Jurídico-Políticas, António Vitorino, de 61 anos, foi eurodeputado entre 1994 e 1995. Nesse ano, foi escolhido pelo então primeiro-ministro (e actual secretário-geral da ONU) António Guterres para o cargo de ministro da Presidência e, posteriormente, para a tutela da Defesa Nacional.

Foi deputado e também foi comissário europeu para a Justiça e Assuntos Internos (1999-2004). Em meados da década de 1980 teve uma breve passagem por Macau, onde foi secretário-adjunto do governador. 

O advogado, que também tem desempenhado vários cargos em diferentes empresas, é membro de várias iniciativas internacionais na área das migrações, com destaque para o Advisory Board of the International Migration Initiative (desde 2015) e para o Transatlantic Council on Migration (desde 2007).

"Tenho a liderança, a visão e a experiência para garantir que a OIM enfrente os complicados desafios da migração internacional", pode ler-se no site oficial da candidatura do norte-americano Ken Isaacs, que foi proposta em fevereiro passado pela administração de Donald Trump.

O nome de Ken Isaacs, apresentado por Washington como um responsável que detém 34 anos de experiência na área da ajuda humanitária e para o desenvolvimento, tem estado envolvido em polémica desde o primeiro minuto por quase de diversos comentários anti-muçulmanos nas redes sociais.

Ao longo dos últimos meses, o vice-presidente da organização evangélica de ajuda humanitária Samaritan's Purse tem tentado retratar-se de tais declarações, afirmando também que o seu percurso devia ser julgado pelas acções humanitárias que desenvolveu no terreno e não por tweets.

"Nada que eu possa dizer vai mudar aquilo que eu disse. Peço desculpa pela dor que causei. Tenho centenas de amigos muçulmanos em todo o mundo e há vários anos. Não acredito que o Islão seja uma religião violenta", afirmou, em Maio passado, durante um evento na associação de correspondentes nas Nações Unidas, em Nova Iorque.

Na mesma intervenção, o norte-americano garantiu não fazer nenhuma distinção ou discriminação contra alguém ou contra qualquer religião.

Ainda no site de Ken Isaacs é possível acompanhar as várias deslocações que o candidato tem feito nos últimos meses a várias capitais na Europa e em África, sempre ladeado por representantes do Departamento de Estado, num sinal dos esforços impostos pela diplomacia norte-americana nesta eleição.

Vice-directora-geral da OIM desde Setembro de 2009 e reeleita em 2014, Laura Thompson é o outro nome envolvido na eleição de sexta-feira.

Em Dezembro passado, e em plena contagem decrescente para o fim do segundo mandato de cinco anos do actual director-geral da OIM (o diplomata norte-americano William Lacy Swing), a candidatura da costa-riquenha, cuja carreira diplomática tem sido feita essencialmente na ONU, já era dada como certa.

O currículo oficial disponível no site da OIM refere, entre outros aspectos, que Laura Thompson tem mais de 20 anos de experiência em diplomacia, negociações multilaterais, políticas de desenvolvimento e assuntos humanitários.

As mesmas informações mencionam que a responsável "apoia o director-geral na administração e gestão da organização, com cerca de 8500 funcionários, 440 gabinetes no terreno e um orçamento anual que varia entre 1,2 mil milhões e 1,4 mil milhões dólares".

A OIM foi integrada na estrutura multilateral da ONU a 25 de Julho de 2016. Antes, a organização tinha recebido, em 1992, o estatuto de observador permanente na Assembleia-Geral da ONU e firmado um acordo de cooperação (1996).

A par dos 169 Estados-membros, a OIM conta com oito países que detêm estatuto de observadores.
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!

As polémicas escutas

As 50 conversas de António Costa intercetadas revelam pedidos de cunhas e desabafos. Na Ucrânia, há um português na linha da frente, a fugir de drones e a esconder-se vários dias em trincheiras. Por cá, um casal luta contra a doença do filho, tão rara que ainda não tem nome