Secções
Entrar

Sócrates: "A decisão da senhora procuradora foi uma decisão gravíssima"

18 de março de 2017 às 20:41

"Acho absolutamente inacreditável que o Ministério Público pretenda conduzir os processos penais sem prazo", afirmou hoje aos jornalistas José Sócrates

O antigo primeiro-ministro José Sócrates considerou este sábado que a decisão da Procuradoria-Geral da República (PGR) de adiar a conclusão do inquérito "foi uma decisão gravíssima" e acusou o Ministério Público de criar complexidade para justificar atrasos.

"A decisão da senhora procuradora foi uma decisão gravíssima. Trata-se do quinto adiamento e, desta vez, um adiamento sem prazo. Acho absolutamente inacreditável que o Ministério Público pretenda conduzir os processos penais sem prazo", afirmou hoje aos jornalistas José Sócrates, referindo-se à decisão da PGR de adiar a conclusão do inquérito e emissão de despacho final da 'Operação Marquês'.

O antigo primeiro-ministro sublinhou que aquilo que o Ministério Público provoca é "fazer uma condenação sem julgamento", acusando os responsáveis pelo processo de criarem a complexidade para "justificarem os atrasos e esta campanha de difamação".

"Os prazos previstos no código penal são fundamentais para a defesa das pessoas", sendo que estes prazos "não estão disponíveis para o Ministério Público os poder manipular como entender", notou o também antigo secretário-geral do PS, que falava à comunicação social após ter discursado na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

De acordo com José Sócrates, o Ministério Público acaba por estar a fazer "uma alteração da lei" e não a interpretá-la, sublinhando que as alterações legislativas competem à Assembleia da República.

O antigo primeiro-ministro também constatou que, ao fim de dois anos e meio, a procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, "vem agora manifestar dúvidas e manifestar até desconfiança quanto à investigação". O Ministério Público (MP), vincou, utiliza um "método de partir de um culpado para depois descobrir o crime" - algo que "inverte o processo penal próprio dos Estados democráticos".

José Sócrates criticou o facto de o MP tentar juntar ao processo pessoas que "nada têm que ver" com o antigo primeiro-ministro, como é o caso de "Ricardo Salgado, Zeinal Bava e Henrique Granadeiro". "É absurdo", comentou, classificando essas "tentativas" como uma forma de o Ministério Público querer "fazer uma nova frente, lançar mais suspeitas sobre as pessoas, para mais um adiamento". "Por favor não atirem areia aos olhos das pessoas", apelou o ex-primeiro-ministro.

A defesa de José Sócrates anunciou que vai impugnar "por todos os meios legais" a decisão da procuradora-geral da República de prorrogar o prazo de conclusão do inquérito da 'Operação Marquês'. Segundo os advogados, "a decisão da senhora procuradora-geral de determinar que o inquérito prossiga sem prazo nenhum é ilegal e ilegítima".

Os procuradores elencaram seis fundamentos para justificar novo adiamento da conclusão do inquérito, incluindo a necessidade de aprofundar a investigação ligada à PT, realização de novas diligências e atrasos de Angola e Suíça na resposta a cartas rogatórias, entre outros.

Sócrates está indiciado por corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, num processo que investiga crimes económico-financeiros e que tem 28 arguidos, 19 pessoas e nove empresas.

Entre os arguidos estão Armando Vara, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos e antigo ministro socialista, Carlos Santos Silva, empresário e amigo do ex-primeiro-ministro, Joaquim Barroca, empresário do grupo Lena, Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, João Perna, antigo motorista de Sócrates, Paulo Lalanda de Castro, do grupo Octapharma, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava, ex-administradores da PT, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e os empresários Diogo Gaspar Ferreira e Rui Mão de Ferro e o empresário luso-angolano Hélder Bataglia.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela