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Professora acusada de dez crimes de maus-tratos julgada à porta fechada

12 de março de 2018 às 15:40

O juiz decidiu excluir publicidade do julgamento para proteger a privacidade das alegadas vítimas.

O julgamento de uma professora de Barcelos, acusada de dez crimes de maus-tratos a alunos, arrancou esta segunda-feira à porta fechada no Tribunal Judicial daquela comarca. O juiz decidiu excluir publicidade do julgamento para proteger a privacidade das alegadas vítimas.

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Foto: Jamie Grill
Tribunal

De acordo com o despacho, os maus-tratos perpetrados pela professora eram físicos e verbais, tendo ocorrido entre 2009 e 2016, nas escolas de Aldreu e Fragoso. As vítimas eram alunos mais lentos e com dificuldades de aprendizagem.

"As crianças nunca viram a escola como lugar seguro que deveria ser, antes recusavam ir à escola, e, apesar de irem, viviam nela um verdadeiro terror", refere o despacho.

Em interrogatório judicial, a professora negou "perentoriamente" as agressões, garantindo que em 30 anos de profissão sempre manteve as "melhores relações pessoais" com os alunos.  

Segundo a mulher, alguns dos alunos eram "especialmente problemáticos", tendo de recorrer a um tom de voz "mais ríspido" com eles.

A docente alegou que apenas toca com a mão nas cabeças das crianças "com intuito pedagógico, sem qualquer agressividade".

A professora é acusada de uso frequente de "calão grosseiro" em frente aos alunos e de lhes dirigir expressões insultuosas como "arrastão", "azelha", "burro", "preguiçoso" e "lesma".

As agressões físicas passariam, nomeadamente, por bofetadas, calduços (pancadas na nuca) ou agressões na cabeça com canetas ou com os dedos em que tinha anéis.

Os alunos sofreriam ainda outros castigos, como não frequência das actividades extra-curriculares ou privação dos recreios.

A docente terá também baixado as calças a um dos alunos, em plena sala de aulas, agredindo-o com sapatadas nas nádegas.

É igualmente acusada de ter imposto aos alunos um "ameaçador pacto de silêncio", para que não contassem em casa nada do que passava na escola.

"As consequências da conduta violenta e totalmente inapropriada da arguida na saúde física e mental das crianças encontram-se profusamente indiciadas pelo acompanhamento psicológico e pedopsiquiátrico que tiveram", lê-se ainda no despacho de pronúncia.

Um pedopsiquiatra que seguiu uma aluna escreveu, num relatório, que "durante todo o período escolar, foi uma verdadeira tortura para a criança ir à escola", porque a professora a insultava "com regularidade", provocando uma situação de "verdadeiro pânico, insegurança e nictúria".

O médico aconselhou a aluna a mudar de escola e a evitar passar em frente à escola onde teria sido alvo dos maus-tratos.

Por causa deste processo, a docente foi alvo de um processo disciplinar, mas apenas relativo aos anos em que leccionou na escola de Fragoso, que acabou por ser arquivado.

Uma outra docente que trabalhou na mesma escola com a arguida disse que esta é uma "boa professora", com "objectivos bem definidos, que faz todos os possíveis para os atingir e que se dedica à turma que lhe está distribuída".

"Depois, há pais que não gostam que ela seja tão exigente para os filhos e reagem desta forma", acrescentou, quando ouvida em fase de inquérito.

Os adultos que trabalharam nas escolas da arguida e que foram ouvidos, desde auxiliares a professores e psicólogos, disseram todos que não presenciaram as agressões.

A juíza de instrução refere que a isto não deverá ser alheio o facto de a arguida ser, na altura, a coordenadora do agrupamento. Mas sublinha, o não terem presenciado não significa que as agressões não tenham existido.

Vinca ainda que as queixas continuaram quando a professora mudou de escola, de Aldreu para Fragoso.

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