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Mais pobres ficaram ainda mais vulneráveis com a pandemia

Ana Bela Ferreira 03 de março de 2021 às 11:32

Relatório "Portugal, Balanço Social 2020 - Um retrato do país e dos efeitos da pandemia", mostra que as classes menos escolarizadas foram as mais afetadas pelo desemprego e que menos puderam ficar em teletrabalho. Na telescola, foram também as classes mais altas que mais viram o Estudo em Casa da RTP.

A pandemia marcou o ano dos portugueses e com impactos a todos os níveis na vida dos portugueses - saúde, emprego, educação. Isso mesmo mostra o relatórioPortugal, Balanço Social 2020 – Um retrato do país e dos efeitos da pandemia, apresentado esta quarta-feira, cuja principal conclusão é a de que a pandemia agravou a vulnerabilidade dos mais pobres.

telescola coronavirus covid Miguel Barreira

O documento aborda as diferenças sociais nos rendimentos, situação laboral, acesso à educação e à saúde, condições de habitação e participação social e política e é da autoria de Susana Peralta, Bruno P. Carvalho e Mariana Esteves, do Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center, no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social. Quase dois quartos da população (43,4%) estavam em situação de pobreza, antes das transferências sociais (pensões e subsídios), em 2019.

São as famílias pobres que mais têm dificuldades no acesso ao mercado de trabalho, ao ensino superior e à saúde, aponta ainda o relatório que anualmente traça um retrato socioeconómico das famílias portuguesas. Os desempregados eram ainda o grupo com a maior taxa de pobreza, em 2019: 42%.

As regiões autónomas dos Açores (31,8%) e da Madeira (27,8%) são as mais pobres de Portugal. Enquanto Lisboa e Porto são as áreas com maior desigualdade na repartição de rendimentos.

A pandemia e a situação social das famílias
O relatório analisou a primeira vaga da pandemia e os seus efeitos na vida das famílias portuguesas. O cancelamento das consultas e cirurgias condicionou o acesso à saúde dos portugueses. Só em abril foram canceladas 135,8 milhares de cirurgias e 1,22 milhões consultas. "Inquéritos realizados entre março e junho de 2020 mostram questão os mais pobres que reportavam ter um risco de infeção mais elevado", refere o documento. Outro inquérito sugere que a pandemia afetou a saúde mental em particular dos mais pobres, com menos escolaridade e dos desempregados.

A nível laboral as medidas de confinamento também serviram para acentuar desigualdades. Setores como os da informação, comunicação e financeiro continuaram em teletrabalho. Já nos setores do alojamento turístico, restauração, artes e desporto, o recurso ao layoff foi quase total. Em setembro de 2020, havia mais 106 mil inscritos nos Centros de Emprego que no mesmo período de 2019. O aumento foi mais expressivo entre os mais jovens (até aos 25 anos) e com escolaridade até ao 12.º ano, com as mulheres em maioria.

A crise pandémica afetou também a educação. Os alunos de famílias mais pobres ficaram em situação mais vulnerável com a substituição das aulas presenciais pelo ensino a distância, devido às limitações no acesso a meios - como computador e internet - para acompanhar as aulas online. Os últimos dados mostravam que no ano letivo 2017/2018, apenas 62% dos alunos com apoio social escolar, tinham acesso a um computador e 52% acesso à internet.

A par das aulas online foram criadas aulas na televisão, com a iniciativa Estudo em Casa emitida na RTP Memória. Os dados da GfK Portugal indicavam que as audiências deste canal aumentaram 60% em abril, quando comparado com o período homólogo. E esse aumento foi registado sobretudo graças à população até aos 17 anos. Contudo, o aumento de espetadores foi maior nas classes sociais mais elevadas (A e B).

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