Secções
Entrar

"Já estou a ser prejudicado há anos". Utentes da Soflusa estão "cansados"

27 de maio de 2019 às 11:13

As constantes supressões das ligações fluviais entre o Barreiro e Lisboa levam os passageiros a ponderar colocar dias de férias e assim evitarem chegar demasiado atrasados ao trabalho.

Os utentes daSoflusamostraram-se "cansados" das constantes supressões das ligações fluviais entre oBarreiroeLisboa, que estão hoje a acontecer durante todo o dia devido à falta de mestres.

"Já estou a ser prejudicado há anos", disse àLusao passageiro Alexandre Custódio, de 34 anos, que chegou ao terminal do Barreiro, no distrito de Setúbal, perto das 08h30 e deu de caras com uma ligação suprimida, mesmo sem a ocorrência de uma greve, o que o obrigou a aguardar junto de outras centenas de pessoas fora da zona de validação do bilhete.

"Estou neste momento a considerar tirar o dia de férias pelo atraso que já está verificado na minha previsível chegada, porque depois disto ainda temos Carris com problemas, metro com problemas, CP com problemas. É aleatório, tanto posso demorar uma hora como duas a chegar ao trabalho, bem como a voltar", explicou.

Na mesma situação estava Fátima Marques, de 54 anos, que frisou que esta é uma situação que "já se arrasta há imenso tempo", afetando bastante a vida pessoal dos utentes.

Os passageiros têm de chegar mais cedo ao terminal porque a hora de partida dos barcos nunca é certa, indicou.

"Eu entro às 09h30 em Lisboa e costumo apanhar o barco das 08h40, no horário normal, sem supressões e sem greves, mas repare, estou aqui [08h20] e à noite é a mesma confusão, sempre. [...] afeta muito a vida pessoal. Não tenho chegado atrasada, mas para não o fazer tenho de prescindir do meu tempo pessoal", sublinhou.

Na sexta-feira, a Soflusa anunciou a supressão de dezenas de carreiras para hoje, em ambos os sentidos, e em especial nas horas de ponta devido a "constrangimentos laborais".

Também na quinta e na sexta-feira se registaram perturbações no serviço devido à greve dos mestres da Soflusa, que estão em luta pela contratação de mais profissionais e contra a sobrecarga de trabalho.

Está já prevista uma nova paralisação parcial, de três horas por turno, entre 3 e 7 de junho.

"Na semana passada praticamente não utilizei porque tive boleia de alguém e não foi necessário, mas desde que começaram as greves tem sido terrível. Mesmo que consigamos, o barco enche ou então, mesmo que ainda não seja o horário dele, acaba por partir e ficam aqui centenas e centenas de pessoas à espera", adiantou Carla, de 51 anos.

Foi exatamente isso que se verificou no período em que aLusaesteve no terminal do Barreiro, entre as 08h00 e as 09h40, em que se realizaram cinco carreiras e três foram suprimidas, fazendo com que a lotação dos navios de esgotasse antes da hora prevista de partida.

Apesar de os utentes considerarem que as constantes supressões da Soflusa são já um problema "crónico", nas últimas semanas o terminal tem registado uma maior concentração porque os barcos não são suficientes para escoar e os meios de transporte alternativos, como a Fertagus (comboio), "não são válidos" por se situarem longe do concelho.

Perante estes constrangimentos, os passageiros consideram que a situação "é absolutamente inadmissível do lado da administração".

"Pelo que me tenho apercebido, nem é a questão da greve às horas extraordinárias, falta efetivamente gente para fazer as carreiras", considerou Alexandre Custódio.

Também Carla realçou que "os mestres têm razão" e que existe "pouca diferença entre o ordenado dos mestres e dos marinheiros", o que faz com que os segundos profissionais não concorram aos concursos para ascender na carreira, uma vez que o salário não aumenta muito, mas "a responsabilidade é maior".

Desde 10 de maio que as ligações fluviais entre o Barreiro e Lisboa têm registado várias perturbações devido à falta de mestres

O cenário piorou com a paralisação parcial em dois dias e com a greve às horas extraordinárias, que se deve prolongar até ao final do ano.

Segundo a Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), na Soflusa trabalham 21 mestres, dos quais três se encontram de baixa médica, mas são necessários pelo menos 24 para o serviço funcionar com qualidade.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela