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Debate. “Vi neste debate o melhor governo para o País”

Ângela Marques 17 de abril de 2025 às 22:40

Os candidatos do PS e do Livre, Pedro Nuno Santos e Rui Tavares, discutiram corrupção, herança social, complemento solidário para idosos e, claro, o voto útil

Era o debate que a noite pedia: na véspera do fim de semana de Páscoa, com o País embalado para uma sexta-feira santa, arranque de um fim de semana prolongado que incluirá um domingo de romarias do sofá para a mesa e da mesa para o sofá, os candidatos do PS e do Livre, Pedro Nuno Santos e Rui Tavares, moderados por Clara de Sousa (e por ideias que se tocam, lembrando um clássico "Muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa"), preparavam-se para o debate mais amigável até à data.

E, neste tom, o debate começou como se os dois estivessem com vontade de jogar um Eu Nunca. Para abrir, Clara de Sousa questionou o líder socialista sobre a denúncia anónima e a averiguação preventiva do Ministério Público à compra de duas casas. Pedro Nuno Santos avançou, no seu novo tom, macio e confiante q.b., explicando que há uma tentativa de criar "uma ideia de equivalência" que rejeita.

E foi com um meio sorriso que enunciou: "Eu não estou a receber dinheiro todos os meses de nenhum empresário português", seguindo-se "Eu não fiz a reestruturação de uma empresa que fatura 7 milhões…", "Eu não…", "Eu não…", terminando com "Eu não sou igual a Luís Montenegro".

Chamado à conversa, Rui Tavares começou a sua resposta na mesma toada: "Eu não me meto no trabalho do Ministério Público." De seguida, foi assertivo: "Luís Montenegro não quer dar todos os esclarecimentos, provavelmente porque não pode." 

O debate seguiria confortável para ambos, com o tema da corrupção. Enquanto Pedro Nuno Santos afirmou que "há muito trabalho a fazer" para combater o enriquecimento ilícito, Rui Tavares defendeu que Portugal está numa encruzilhada: "Ou continuamos com este discurso dos políticos são todos malandros ou nos inspiramos nos países que tiveram sucesso contra a corrupção."

Tão confortável estava o confronto que, pelas 21h26, Rui Tavares e Pedro Nuno Santos decidiram deixar-se de salamaleques e começaram a tratar-se por tu. O tema assim o exigia, também, uma vez que começava a dança do voto útil e do caminho (de braço dado) para o Governo. 

Quase sempre a sorrir, Pedro Nuno Santos concedeu que o Livre "tem contributos muito importantes para dar e o PS está muito disponível para os ouvir e reflectir sobre eles", não sem apelar ao voto útil (explicando até como, nalguns círculos, na mais recente eleição, os votos que foram dados ao Livre podiam ter servido para derrotar à AD se tivessem sido oferecidos ao PS). "É mesmo importante que o PS ganhe as eleições, para que algumas propostas e contributos do Livre possam avançar."

Rui Tavares respondeu com a sondagem da SIC/Expresso, dizendo que esta mostra que o apelo ao voto útil não será grande ideia, porque mesmo "esmagando ou fazendo desaparecer todos os partidos à esquerda, o PS não chegava lá". E, com graça, atirou: "Até desejo que fiques à frente da AD, que tenhas mais um voto. Não precisas de roubar 50 mil do Livre, só tens de ir buscar 25 mil à AD, que foi o que te faltou da outra vez." Depois, com romantismo, adiantou: "As pessoas, os portugueses, vão aproveitar a pausa da Páscoa e vão comentar: 'Vi naquele debate o melhor Governo para o País.'"

A SÁBADO sublinha dois momentos neste frente a frente:

O embaraço:

No momento em que discutiam a proposta dos 500 euros à nascença do PS (também conhecida como pé de meia) e a proposta do Livre de uma herança social, Rui Tavares disse duas frases potencialmente assassinas se interpretadas como dirigidas a Pedro Nuno Santos. A primeira: "Nem toda a gente tem a sorte de ter um pai que o ajude." A segunda: "Eu não estou aqui para falar para quem tem duas casas, estou aqui para falar para quem não tem nenhuma."

O KO:

Depois de ter de ouvir Pedro Nuno Santos a dizer "Não estou a dizer para não votarem no Livre, mas há vários círculos eleitorais — Braga, Aveiro, Santarém — em que a diferença de votos, no Bloco de Esquerda e no Livre, permitiriam ao PS ter deputados para derrotar a AD", Rui Tavares atirou: "Não precisas de roubar 50 mil do Livre, só tens de ir buscar 25 mil à AD, que foi o que te faltou da outra vez." 

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