Burla de 348 mil euros e um chip que prometia detetar cancro julgada no Porto
Empresário é acusado de tentar vender um chip que deteta o cancro de forma precoce. Há quatro crimes de burla qualificada e um de falsificação de documentos em cima da mesa.
O caso remonta a 2011. António Coelho, português natural do Porto e com residência em Espanha, que se apresenta como veterinário, conhece o médico e gestor de uma clínica de estética. Estabelecem um relacionamento de amizade, que incluiu visitas às casas de cada um e viagens em conjunto, sendo que o Ministério Público (MP) aponta para que tudo fizesse parte de um plano de António para poder aliciar a vítima a investir numa empresa de tecnologia, a Dar Life.
António terá afirmado ser o detentor da patente de invenção de um revolucionário chip injetável de deteção precoce do cancro. O mesmo era desenvolvido na Suíça, destino para onde ambos chegaram a viajar, com as despesas pagas pelo alegado veterinário e amigo de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola.
Em 2012, o médico transferiu 250 mil euros para o agora arguido em troca de um contrato de cedência de ações da Ulley Group Suisse SA, a detentora da patente. O problema é que o MP afirma que a empresa não tem sequer existência jurídica. De acordo com a acusação do MP, António Coelho (já apresentado na comunicação social como milionário) levou também o representante de uma empresa de biotecnologia e medicina regenerativa (um contacto do primeiro lesado) a entregar-lhe cerca de 26 mil euros, parte do valor em envelopes.
Outro alegadamente burlado foi o cirurgião plástico Serafim Ribeirinho Soares que terá entregado, em espécie, 50 mil euros a António Coelho, um pouco menos do que a quantia disponibilizada por um quarto lesado (60 mil euros). A diferença neste caso é que o queixoso conseguiu recuperar 38 mil euros, reclamando agora o restante valor em tribunal.
A produção de prova pelo Juízo Central Criminal do Porto, iniciou-se esta terça-feira, e em causa estão 348 mil euros referentes à venda de papéis sem valor em vez de ações de uma empresa suíça, como refere a acusação do processo, divulgada pela agência Lusa: "Usou vários artifícios para levar avante os seus propósitos nomeadamente exibindo documentos que bem sabia não possuírem qualquer validade". Esses documentos, "consistiam apenas em mais um engodo para ludibriar os ofendidos e retardar a apresentação de resultados que bem sabia inviáveis, pois nenhuma investigação estava em desenvolvimento".
Em tribunal, António Coelho negou os crimes, confirmou que recebeu dinheiro dos queixosos, rejeitou qualquer prática dolosa e mostrou-se disponível para comprar novamente as ações pelo mesmo valor. Sobre o investidor que lhe confiou 250 mil euros, o arguido defendeu-se, afirmando que tinha vendido "uma participação numa sociedade que tem existência jurídica", que é sua propriedade e que o valor se reportava a 8,33% de uma holding pessoal offshore (que detém a empresa que desenvolve o chip). Esta segunda empresa tinha o controlo sobre uma outra holding que está credora em 11 milhões de euros do estado de São Tomé e Príncipe. Quanto ao chip, António Coelho refere deter a patente desde 2013, que o projeto "continua vivo e a ser desenvolvido em Pamplona" e que, de momento, "estamos numa meia fase" do invento.
O julgamento vai continuar no tribunal de São João Novo, no Porto.
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