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Ascenso Simões: "Ministério Público tem de refletir sobre Operação Marquês"

Margarida Davim 09 de abril de 2021 às 20:06

Um dos poucos a assumir a amizade com José Sócrates, admite que a decisão de Ivo Rosa já não muda a condenação pública de que o ex-primeiro-ministro. Mas pede atenção ao "pecado original" que influenciou a escolha do juiz Carlos Alexandre para o processo.

No fim de uma longa tarde com o país colado à televisão para ouvir a decisão instrutória da Operação Marquês, Ascenso Simões tem poucas razões para alívio, apesar de ser dos poucos que ainda fazem questão de se afirmarem amigos de José Sócrates. O deputado socialista sente sobretudo "preocupação" com o que foi dito pelo juiz Ivo Rosa sobre a falta de consistência da investigação, mas acima de tudo com as dúvidas sobre a forma como foi escolhido o juiz Carlos Alexandre no início do processo.

O deputado do PS Ascenso Simões Raquel Wise

 

"Fico preocupadíssimo desde logo com a escolha do juiz. Pode um cidadão ficar com dúvidas sobre as regras de escolha de um juiz? Algum cidadão pode ficar descansado?", pergunta à SÁBADO o socialista, que nota este "pecado original" como "o ato mais grave deste processo".

 

Para Ascenso Simões, só isso já deve ser alvo de profunda reflexão tanto "nos conselhos superiores das magistraturas" como pelo poder político e aproveitando já o debate sobre o Pacote Anti-Corrupção apresentado pelo Governo. "Não podemos ter uma determinação de juiz inicial do processo sem controlo, sindicância e garantia dos direitos dos cidadãos", defende.

 

A leitura do despacho de pronúncia serviu também para Ascenso Simões identificar as fragilidades da investigação neste caso.

 

"Tantos meios, tanto tempo, tantas cartas rogatórias que atravessaram países e chega ao fim e é tão evidente que as provas são frágeis", afirma o parlamentar, notando que perpassa da decisão de Ivo Rosa o apontar de dedo a um "intuito julgador de costumes" por parte do Ministério Público que não devia ter lugar na investigação criminal. "As magistraturas devem fazer uma análise sobre o que aconteceu, sobre a qualidade da investigação e sobre as obsessões nestas investigações", pede.

 

Ascenso Simões recorda, porém, que agora começa o tempo dos recursos sobre a decisão de Ivo Rosa e que o processo está longe do seu final. De resto, para o ex-secretário de Estado de Sócrates, a opinião pública já condenou o ex-governante. "Foi já condenado a sete anos de pena. O julgamento está feito", diz, convencido de que José Sócrates é hoje uma "figura histórica" que divide os portugueses.

"Há milhões que o adoram e milhões que o odeiam", acredita, considerando que o desfecho judicial terá pouca influência nessa avaliação. "Já ninguém muda a opinião sobre Sócrates". No seu caso, fez a sua escolha. "Sou amigo dele se for ilibado e só ainda mais amigo se for condenado, porque nessa altura terá poucos amigos".

 

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