O vírus não se limitou a roubar-nos o afecto reconfortante do abraço ou a ternura excitante do beijo. Apagou o compromisso de sermos humanos. Segundo alguns evolucionistas, o impulso do passou-bem poderá existir há sete milhões de anos - até os chimpanzés o praticam.
PROIBIDO DESDE MARÇO de 2020, estará o aperto de mão em vias de ser extinto? O passou-bem não é apenas um gesto de cortesia e um sinal de respeito. É o exemplo máximo da sociabilidade da espécie, o remate da palavra dada, a marca da nossa honra. Durante séculos, compromissos pessoais, pactos comerciais, tratados diplomáticos e declarações de paz foram selados com apertos de mão. Imaginem os Acordos de Helsínquia rematados por um chocalhar de tornozelos. Ou Roosevelt, Estaline e Churchill a encostarem cotovelos no desenlace da Conferência de Ialta. O vírus não se limitou a roubar-nos o afecto reconfortante do abraço ou a ternura excitante do beijo. Apagou o compromisso de sermos humanos. Segundo alguns evolucionistas, o impulso do passou-bem poderá existir há sete milhões de anos - até os chimpanzés o praticam. Estará inscrito no nosso ADN. Convida à intimidade, permitindo-nos testar o olfacto no interlocutor (na Mongólia ou na Gronelândia, ainda hoje é comum cheirar-se quem se cumprimenta). Tocar num desconhecido é suspender a desconfiança do outro, extinguindo o medo da diferença. O aperto de mão não é uma formalidade. É um mecanismo de sobrevivência comunitária. Há registos de um aperto de mão firme e assertivo em altos-relevos assírios do século IX a.C. Platão, Sófocles, Plínio, o Velho, faziam finca-pé em assinalar os seus encontros com um valente bacalhau. Mas o bacalhau desapareceu da Terra Nova em que hoje vivemos. Num livro lançado há uma semana em Inglaterra,The Handshake: a Gripping History, a paleontóloga britânica de origem iemenita Ella Al-Shamahi reflecte sobre este costume universal - mesmo na Rússia, no Japão, na Índia, os beijos na face, as vénias ou o namaste são substituídos pelo passou-bem em momentos decisivos. Se a tribo aborígene australiana dos Warlpiri aprecia o encosto de pénis como forma de cumprimento (os indígenas Masai são mais contidos; limitam-se a um toque breve com as palmas das mãos), 3/4 da humanidade não prescinde do bacalhau com todos. Há 13 meses, a única coisa que um aperto de mão nos infectaria era de uma vontade intensa de falar pelos cotovelos. Em Abril de 2021, continuamos em silêncio e de mãos vazias.
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Frank Caprio praticava uma justiça humanista, prática, que partia da complexa realidade. Por isso, era conhecido ora como "o juiz mais gentil do mundo", ora como “o melhor juiz do mundo”.
É de uma ironia cruel que as pessoas acabem por votar naqueles que estão apostados em destruir o Estado Social. Por isso mesmo, são responsáveis pela perda de rendimentos e de qualidade de vida da grande maioria dos portugueses e das portuguesas.
“Majestade, se for possível afogar os 6 ou 7 milhões de judeus no Mar Negro não levanto qualquer objecção. Mas se isso não é possível, temos de deixá-los viver”.