"O doutor juiz apenas pecou (vade retro, três Avés Marias e meio cilício) por defeito. O adultério da mulher, sobretudo se esta usa minissaia e vai ao café à noite, é um gravíssimo atentado à honra e dignidade de um homem"
Venho por este meio prestar a minha mais profunda e sentida homenagem a Joaquim Neto de Moura, juiz desembargador do tribunal da Relação do Porto. Alguém tem de velar pela moral bíblica e os bons costumes milenares. Este homem é do Norte, carago. Magistrado, presumo, de gostos frugais e espartana formação, manteve um par de penas suspensas a dois arguidos do crime de agressões a mulheres. Ora, o doutor juiz apenas pecou (vade retro, três Avés Marias e meio cilício) por defeito. O adultério da mulher, sobretudo se esta usa minissaia e vai ao café à noite, é um gravíssimo atentado à honra e dignidade de um homem, sobretudo quando este se revela digno de deixar crescer as patilhas, beber bagaço e colher toiros numa praça. Para uma mulher adúltera, a moca de pregos é perfume no corpo: porque não uma lapidaçãozinha à porta da igreja num domingo, ou obrigá-la a ver o "Tempo Extra" do Rui Santos? A mulher que fuma e comete adultério é falsa, hipócrita, desonesta e frequentadora de ginásios, onde toda a gente sabe que há nudez e actos lascivos, como agachamentos. Desembargue-se o desembargador de outras funções jurídicas e mantenha-se o magistrático demiurgo numa saudável e necessária rota de colisão com a licenciosidade e o deboche. Os nossos netos, com honroso destaque para os que usam bigode e proíbem as namoradas de ler As Sombras de Grey e a Margarida Rebelo Pinto, agradecerão a Neto de Moura.
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