Sábado – Pense por si

Pedro Marta Santos
Pedro Marta Santos
03 de outubro de 2021 às 10:00

A húbris é uma cabra

Quem sufocou Fernando Medina no Tejo não foi Carlos Moedas, foi a húbris. A húbris da boquinha sobranceira de Medina, do urbanismo predatório oposto aos ideais que diz adoçarem-lhe os lábios, da “mobilidade alternativa” para inglês ver, da habitação jovem por entregar.

HÚBRIS É UMA PALAVRA antiga, um conceito que vem da Antiguidade grega. Foi parte importante da mitologia helénica, e as tragédias de Eurípides ou Sófocles estão pejadas de húbris, dessa ausência de sensatez, de moderação, a falta de prudência que nos leva a brincar aos deuses, julgando-nos seus pares e paladinos. Hubris is a bitch escreve-se, 2400 anos depois, nos pins, nas T-shirts, nos outdoors, como avisos à arrogância que mata, mais do que o ridículo. Como Ésquilo prenunciou – estes gregos eram danados para a brincadeira –, a húbris é uma amante imprevisível e ingrata, e o espaço ideal para nos sussurrar ao ouvido ilusões de grandeza são os corredores do poder. A húbris é tão antiga como a política, e mais antiga do que a democracia. Os políticos afundam-se nela com uma facilidade piedosa – a História está repleta de naufrágios e afogamentos por confiança excessiva, ou simples falta de mesura.

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