Sábado – Pense por si

Bruno Nogueira
Bruno Nogueira Humorista
25 de maio de 2023 às 08:00

Somos o que conseguimos

Nunca conheci um homem livre. Já conheci muitos animais livres, vi-os com os meus olhos. Mas homens, nenhum. Os homens livres não estão à vista, porque enlouqueciam os outros e enlouqueciam-se a si próprios. Cedemos sempre em alguma coisa, para fazermos parte.

NINGUÉM É QUEM DIZ que é. Somos todos personagens mas fazemos disso o segredo mais mal guardado da história. Inventamos o que queremos ser para que nos aceitem como fazemos de conta que somos. Não é fácil ser-se alguém no meio de tanta gente que espera de nós mais do que aquilo que nascemos para ser. Acordamos nós próprios, e a partir daí vamos despertando várias características que nos permitem passar pelos dias sem que nos achem loucos, ou pior do que isso. Alguém que seja o que é sem cedência nenhuma, tem tanto de livre como de perigoso, porque mostra que não tem nada a perder. E quem não tem nada a perder, é perigoso por ser tão livre. A liberdade para sermos o que queremos é uma luta que não nos leva a lado nenhum, porque não é para essas pessoas que o mundo está feito. Mal uma criança nasce, é ensinada sobre o que deve e não deve ser, o que deve e não deve fazer, o que deve e não deve dizer. Os pais fazem o melhor que podem e falham sempre. É essa a principal função dos pais: uma sucessão ininterrupta de tentativa/erro que faz com que educar seja ao mesmo tempo deseducar. Nenhum pai nem nenhuma mãe acerta, porque cada pai e cada mãe faz o melhor que sabe, e o melhor que sabe é criar nos filhos uma personagem que os ajude a passar entre os pingos da chuva, e a ter uma vida feliz apesar de tudo. Apesar deles. É contrariar a natureza para poder fazer parte dela. Alguém que seja o que nasceu sem ser educado para o que o espera – e esperam dele –, é tido como um selvagem. E os selvagens não sobrevivem aos tempos que correm, porque são selvagens num mundo que é ainda mais selvagem pela violência que é precisa só para estar nele. Instagram, Tik Tok, Facebook, YouTube são tudo ferramentas que fazem com que a fasquia seja tão alta que é intransponível. Estão cheios de pessoas que se fazem passar por outras pessoas. Tentam desesperadamente que olhem para elas, mas para isso é preciso que não sejam vistas como são, mas como querem ser vistas. Pessoas que deixam de gostar de si próprias, para que os outros possam gostar um bocadinho delas, e tentar assim equilibrar o desequilíbrio.

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