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Não foi o partido de extrema-direita que ganhou, foram os dois partidos grandes que perderam. O povo é sereno até deixar de ser, e chega uma altura em que olha para a vida que tem, e dá um murro na mesa.
FAZER JOGOS de adivinhação sobre o que vai na cabeça dos portugueses é bem mais difícil do que tentar entender Portugal. A cabeça de cada um é só por si uma tese de mestrado que obriga a muitas conjecturas, muitos pormenores subtis, um conjunto de fragmentos que, depois de vistos a uma determinada luz, podem resultar apenas numa ideia leve do que se está a analisar. É por isso que quando se tenta entender o que aconteceu no domingo passado nas eleições, se arriscam muitas teorias; mas à falta de certezas, o que resta é apenas isso: teorias. Os factos: pela primeira vez há um partido de extrema-direita que assume uma posição de destaque nas eleições em Portugal. E para abreviar caímos constantemente no erro de concentrar o problema nas pessoas que votaram nesse partido, sem antes tentarmos perceber que a questão é muito maior do que aquilo que aparece nos gráficos. O problema não se resume a uma cruz num boletim de voto, o problema são os anos e anos de circo político que despertaram essa cruz que agora carregamos. Anos de falta de transparência e de bafio que levam a que rebentem suspeitas por todos os cantos, enquanto o povo fica sentado no sofá a pensar no que fazer com a informação que está a receber, e com o dinheiro que está a faltar. Não acredito que Portugal tenha um milhão de fascistas que partilhem dos mesmos ideais de um partido fascista; acredito sim que lá pelo meio andam certamente muitos deles, que urram de alegria com a ideia de um partido que está a insuflar à conta do desespero acumulado dos que agora lá chegam. Dentro desse milhão há uma fatia muito significativa de pessoas que estão desesperadas, ansiosas por castigar quem sempre prometeu que a pobreza e o desemprego não lhes bateria à porta, que não teriam de sair de casa por não terem o dobro do dinheiro que lhes foi pedido no passado. Olhando para o PS, para a AD, e para a margem mínima em que se movimentam no resultado destas eleições, a conclusão não é difícil de retirar: os crescidos foram postos de castigo. Os partidos da liga dos grandes foram encostados a um canto com orelhas de burro por continuarem agarrados a maneirismos que deixaram de funcionar. Tons de voz e cadências de frases que já não ganham votos. Como se continuassem a apostar no sépia, enquanto um partido populista e vazio descobriu as cores fortes e gritantes que enganam o olho desabituado às subtilezas da cor. Não foi o partido de extrema-direita que ganhou, foram os dois partidos grandes que perderam. O povo é sereno até deixar de ser, e chega uma altura em que olha para a vida que tem, e dá um murro na mesa. O problema é que esse murro pode tornar Portugal num país onde, numa altura em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril, se corre o risco de se andar 50 anos para trás.
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Importa que o Governo dê agora um sinal claro, concreto e visível, de que avançará rapidamente com um modelo de assessoria sólido, estável e devidamente dimensionado, para todos os tribunais portugueses, em ambas as jurisdições.
É muito evidente que hoje, em 2025, há mais terraplanistas, sim, pessoas que acreditam que a Terra é plana e não redonda, do que em 1925, por exemplo, ou bem lá para trás. O que os terraplanistas estão a fazer é basicamente dizer: eu não concordo com o facto de a terra ser redonda.