Uma janela é um rasgão na parede que desvenda pequenas amostras do que se passa no resto do dia. É luz que entra para desenhar sombras que se mexem ao longo das horas, uma forma geométrica que atravessa a parede para manter ligado o que está dentro e fora.
SEMPRE QUE VEJO uma pessoa debruçada à janela, há uma história que está a ser contada. Alguém que decidiu olhar para fora do casulo e espreitar o que estava para além daquela moldura de vidro. Todos os dias passo por uma senhora de 80 anos que está à janela, e todos os dias a encontro de cotovelos pousados, com o mesmo ar de farol curioso, a rodar a cabeça e a afinar os olhos para tudo o que vai mexendo. Uma pessoa à janela não vê só o que está à frente dela; às vezes desembesta para sítios tão longínquos que só por sorte é que consegue voltar. As pessoas mais velhas debruçadas à janela são o património de uma rua – espreitam outras vidas, desvendam intrigas, descobrem coisas bonitas, procuram quem entra e sai do prédio, quem está doente e quem acabou de nascer; fazem a patrulha da rua sem pedirem nada em troca. São capitães de navios de vários andares. Ficam a ver o dia a passar, cheias de inveja por já não terem para onde ir, mas com ternura pelos que avançam cheios de pressa para o que ainda têm pela frente. Resistiram a ficar no sofá, cansaram-se de ficar só a ver televisão porque perceberam que ali ao menos ainda as olham de volta. À frente da televisão são invisíveis – os olhos que olham para elas, são olhos que não as vêem. À janela vestem fardas e são funcionárias delas próprias. Organizam turnos, sabem qual a melhor hora para voltar ao posto, e qual a hora em que podem voltar para dentro e recolher para onde está mais escuro e quieto. As janelas são promessas rectangulares de esperança. Crianças que desenham palavras no vidro embaciado, animais que espreitam ansiosos pelo regresso de quem os passeia, vizinhos que cumprimentam quem passa, pessoas que esperam sabe-se lá o quê, sabe-se lá quando.
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Através da observação da sua linguagem corporal poderá identificar o tipo de liderança parental, recorrendo ao modelo educativo criado porMaccobye Martin.
Ficaram por ali hora e meia a duas horas, comendo e bebendo, até os algemarem, encapuzarem e levarem de novo para as celas e a rotina dos interrogatórios e torturas.
Já muito se refletiu sobre a falta de incentivos para “os bons” irem para a política: as horas são longas, a responsabilidade é imensa, o escrutínio é severo e a remuneração está longe de compensar as dores de cabeça. O cenário é bem mais apelativo para os populistas e para os oportunistas, como está à vista de toda a gente.