Sábado – Pense por si

Uma árvore deitada aos meus pés

Uma árvore de quase cem anos deitada aos meus pés. Sempre que se vê uma árvore daquele tamanho tombada fica-se com uma tristeza que não é bem nossa. Uma tristeza pela impossibilidade de recuperar aquela história que caiu por terra.

A colecção das pessoas maravilhosas

As pessoas maravilhosas não cabem em qualquer colecção, não podem ser catalogadas, nem preservadas de forma definitiva. Elas escapam-nos com o tempo, e, se as tentarmos prender, provavelmente a magia da sua maravilha desaparece.

A força de desistir

Não estou a falar daquela desistência preguiçosa, daquilo que se abandona porque se tem medo de fazer o trabalho duro. Falo da desistência sábia, a que vem com a reflexão e com a consciência de que já não vale a pena gastar energia em algo que não vai dar em nada.

A arte do queixume

Nunca sabemos se queremos realmente o que não temos, ou se queremos apenas que nos falte sempre algo. E talvez, no fim de tudo, o que queremos não seja mais do que isso: viver na promessa do que nunca chega, na eternidade do que nunca se concretiza.

Valham-nos eles

Estar doente é ver com olhos de quem vê o mundo todo pela última vez, como se tudo passasse a ter um valor acima daquele que tem.

A idade certa

O meu tempo interior sempre esteve em desacordo com a minha idade. Não falo de ser “maduro” ou “precocemente sensato”, não é sobre isso. Era um estado de cansaço existencial precoce.

O som que nasceu com ela

Sempre foi generoso e atencioso, mas não é de partilhar o que sente, muito menos a razão pela qual o sente. Conheço o riso do meu pai há muitos anos, e conheço-lhe a gargalhada, o riso que vem quando alguma coisa o apanha de surpresa.

Um pouco mais suportável

Quando eu tinha 19 anos, um encenador e amigo deu-me a conhecer o concerto de Colónia do Keith Jarrett. Foi talvez o presente mais bonito que recebi até hoje, um som salvífico que nasceu num dia em que nada era suposto nascer.

Um dia vais perceber

Outras vezes nunca percebemos. E ficamos a vida inteira a duvidar de nós mesmos. Será que somos assim tão lerdos? Será que estamos condenados a viver na ignorância eterna? Talvez a frase “um dia vais perceber” seja apenas uma maneira educada de dizer “não tens capacidade para isto”.

Um movimento interno

Vivemos num tempo em que a dignidade parece um luxo, uma coisa obsoleta, como usar lenços de pano ou arranjar as solas dos sapatos. Já ninguém quer saber, porque há opções mais fáceis e rápidas. O importante é ganhar, aparecer, e sobretudo estar certo.

O cemitério das alegrias perdidas

O maior mistério da vida não é o amor ou a morte. Não é o universo, nem o fundo do mar. O maior mistério da vida é a alegria que ainda não conhecemos. Procurar uma alegria não é coisa pouca, é ir atrás de uma espécie rara e tomar conta dela.

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