Sábado – Pense por si

Vítor Sousa
Vítor Sousa Escritor e poeta
20 de abril de 2017 às 12:00

O ouvinte

Nunca houve uma só pessoa que quisesse saber de mim. Sou todo ouvidos, uma orelha tremenda com gente agarrada como pode

Nunca houve uma só pessoa que quisesse saber de mim. Sou todo ouvidos, uma orelha tremenda com gente agarrada como pode. Uns em escalada, outros em rappel, muitos em tobogã, alguns a praticar desastres de rodapé na esperança da ressurreição, uma elite em espreguiçadeiras de praia a fumar muito, a beber e a comer do bom, deus queira em sussurro para os dados, a fé na virgem convocada para a mesa, mais fé na jogadora, minha nossa senhora da roleta russa, que incha de devoção e amamenta um menino-jesus alpinista enquanto joga com uma cruz entre os lábios – será batom? – movida como moinho de juízos, pro-fis-sio-nal-men-te à força de língua, que tenha azar ao jogo, meu pai, mas dá-me a mão certa para lhe fazer all-in e eu prometo, eu prometo que, prometem todos ao folhear o catálogo do Getsemani com o euromilhões, a lotaria clássica, 1x2 mais golo menos golo, o el gordo, o el gordo do avô que tarda, tarda, tarda e por favor, pai nosso que deves estar aí bendito é o fruto do vosso ventre, não morras hoje, avô, que é ladies nigth, e eu prometo, eu prometo que amanhã, querido avô, a ressaca será tão grande que passa bem por luto.

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