Não discuto que João Pereira não tinha perfil para liderar uma equipa como a do Sporting mas não é menos verdade que João Pereira foi mais vítima do que culpado em todo este processo que configura um autentico manancial de soberba e vaidade por parte da famosa estrutura do clube de Alvalade.
1. Um mês após ser apresentado como o próximo grande treinador mundial a emergir do futebol português, João Pereira recebeu de prenda de Natal um embrulho que continha lá dentro um despedimento frio e cruel, acabando por ser mais uma vítima da velha máxima do futebol que diz que o que hoje é verdade, amanhã é mentira.
Com efeito, aquando a sua apresentação, o Presidente do Sporting garantiu, entre sorrisos e auto elogios vários, que João Pereira ia encontrar uma super estrutura que o ia proteger e permitir crescer como treinador.
Pois bem, no último fim de semana e após um empate frustrante em Barcelos, João Pereira foi deixado sozinho a enfrentar a fúria dos adeptos à saída do estádio do Gil Vicente enquanto o Frederico Varandas abandonava o local numa viatura particular.
Ainda mais esdrúxulo, na Gala dos prémios Stromp realizada na quinta-feira de semana passada, o líder do clube de Alvalade dizia que as 4 derrotas consecutivas do Sporting deviam-se ao choque emocional decorrente da saída de Amorim, à lesão de 5 jogadores titulares e a arbitragens infelizes, para, 5 dias depois, despachar João Pereira à velocidade da luz, de nada valendo a este o facto de ter sido uma escolha planeada e há muito preparada pelo homem que alega viver no futuro e ter tudo preparado para substituir uma peça que deixe a estrutura, por outra.
Tudo isto é triste mas tudo isto é o fado do futebol, sobretudo daqueles que parecem navegar à vista e se arrogam de uma extraordinária competência que só o seu ego alcança.
Não discuto que João Pereira não tinha perfil para liderar uma equipa como a do Sporting mas não é menos verdade que João Pereira foi mais vítima do que culpado em todo este processo que configura um autêntico manancial de soberba e vaidade por parte da famosa estrutura do clube de Alvalade.
Contudo, e como sucede nos melhores enredos, o melhor estava reservado para o fim.
Há uma semana, o Presidente do Sporting apregoava, no alto do palanque que dava mais lustro à sua altivez, que a escolha de João Pereira havia sido lógica e natural dado que os jogadores do Sporting não iam compreender, nem aceitar, que chegasse um novo treinador ao Sporting e dissesse "agora vamos jogar de maneira diferente".
Entretanto, o mundo mudou numa semana e chegou Rui Borges que joga, precisamente, de maneira diferente.
Ora, perante isto, não há ninguém que pergunte ao Presidente do Sporting "e agora, os jogadores já aceitam?"
2. Rui Borges, o nome que se segue, é um homem humilde que subiu a pulso no futebol, revelando sempre muito arrojo e desassombro na forma como procura que as suas equipas se apresentem em campo.
O Vitória era, indiscutivelmente, uma equipa competente e corajosa que jogava olhos nos olhos contra qualquer adversário, apresentando um nível de jogo muito interessante e resultados na Conference League que pedem meças a qualquer outra equipa europeia.
O seu discurso simples, frontal e honesto entra bem no balneário e percebe-se que as suas equipas são uma extensão e um retrato fiel do que Rui Borges é enquanto treinador.
Não está, pois, em causa a sua qualidade mesmo que não me identifique com alguns dos seus princípios de jogo nem os considere como mais adequados para um clube grande.
O meu ponto é a sua escolha revelar uma total ausência de um fio condutor no projecto desportivo do Sporting pois os critérios que levaram à escolha de João Pereira já não serviram de base ao recrutamento de Rui Borges, o que me leva a crer que, contrariamente à narrativa que nos procuraram vender, o Sporting não só não confia no processo, como parece não ter processo algum, limitando-se a disparar em todas as direções à espera de acertar no alvo.
Calhou de acertar em Amorim depois dos enormes tiros falhados em Keizer e Silas.
Voltaram a falhar estrondosamente em João Pereira e vamos ver se acertaram agora em Rui Borges.
Uma coisa parece-me certa: o Sporting constituiu um plantel para ir de encontro às ideias de Amorim e ao seu modelo de jogo mas esse plantel parece-me estar longe de corresponder às necessidades do modelo de jogo de Rui Borges (há médios centro e laterais a menos e defesas centrais a mais, sendo que Trincão e Pote rendem mais a jogar por dentro do que como extremos puros).
3. A curta estadia de João Pereira à frente do Sporting e tudo o que isso representou em termos de falta de confiança no processo e no projecto desportivo do Sporting serve de termo de comparação com o que sucedeu no FC Porto.
No FC Porto, perante a contestação dos adeptos (entre os quais me incluía e incluo dado que ainda mantenho as mesmas reservas e desconfianças no trabalho de Vítor Bruno), o Presidente do FC Porto decidiu, praticamente sozinho, defender e proteger o treinador, saindo ao seu lado após as derrotas no Estádio da Luz e Moreira de Cónegos e dizendo, à saída para a Bélgica onde o FC Porto ia defrontar o Anderlecht, que a confiança no treinador era total e que este tinha tempo e espaço para desenvolver o seu trabalho.
No Sporting, João Pereira teve juras de fidelidade à chegada mas nunca teve ninguém a defendê-lo e protegê-lo nos momentos de insucesso (e foram muitos), acabando por ser atirado borda fora ao fim de pouco mais de 40 dias.
Não sei a quem o tempo dará razão mas sei distinguir aqueles que se batem pelas suas ideias e convicções dos que não têm convicções nenhumas.
O Natal fez mais uma vítima no Sporting: a confiança no processo
Há quem ainda não consiga encarar um FC Porto sem Pinto da Costa, tal era o culto da personalidade que cultivavam, e mostre resistência em estar de corpo e alma com o clube, aproveitando qualquer momento menos bom para apoucar quem dirige os destinos do FC Porto.
É inegável que o FC Porto ficou mais fraco com o fim do mercado de Janeiro e que a luta pelo título parece ser cada vez mais uma miragem, mas aproveitemos os próximos meses pela frente para trabalhar as novas ideias do treinador, fazer crescer os jovens jogadores do plantel e lutar pelo acesso à tão importante Champions League.
Se no FC Porto não há anos zero, este será o ano zero de Martin Anselmi que deverá lançar as bases para termos um FC Porto competente e muito melhor preparado no futuro.
O tempo que avaliará Anselmi não é o tempo dos adeptos que exigem respostas imediatas em campo e resultados desportivos à altura dos pergaminhos do FC Porto.
Perante este cenário grotesco, que permite perceber melhor como é que uns iam enriquecendo enquanto o clube ficava cada vez mais perto do abismo financeiro, não é possível nem aceitável que não se extraiam consequências desta auditoria. Só assim estaremos a ser implacáveis com quem tiver lesado o FC Porto.
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O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.