A redução do número de estudantes a entrar para o ensino superior é, por isso, uma tragédia que importa solucionar.
Há ministros que fazem reformas.
E há ministros que desfazem o que estava a ser feito. Nos últimos anos, muito
se fez para que ensino superior não seja um “privilégio”, como afirmou o Ministro
da Educação. Afinal, este é um direito consagrado constitucionalmente,
naturalmente condicionado ao aproveitamento académico. É um caminho de
conhecimento e de elevação cultural e cívica dos alunos, de quem lá investiga,
mas também do conjunto da sociedade. Cedamos, porém, ao utilitarismo dos tempos:
o ensino superior é uma necessidade do país e das suas empresas, que precisam
de médicos, engenheiros, professores, economistas, entre outras profissões.
Hoje, com a taxa de desemprego próxima do seu mínimo, a procura por pessoal
qualificado chegou a setores onde há bem pouco tempo não se encontrava
trabalho. A redução
do número de estudantes a entrar para o ensino superior é, por isso, uma
tragédia que importa solucionar.
Não
fosse o terrível acidente no elevador da Glória (deixo aqui os meus sentimentos
aos familiares e amigos dos que faleceram e um sincero reconhecimento às forças
de segurança e proteção civil), esta última semana teria sido em grande para
Fernando Alexandre. Não é preciso nos entretermos com a novela
da Universidade do Porto. Só o “sr. Escuta” saberá o que foi ou não dito
nas chamadas telefónicas. Parece claro o despropósito da reação
do Ministro à notícia e pouco prudentes as
suas diligências no sentido de tentar obter vagas supranumerárias. Muito
mais relevante foi a aprovação em Conselho de Ministros da nova proposta de lei
de Regime
Jurídico das Instituições de Ensino Superior ou os
anúncios de terça-feira, à pala de um estudo sobre o nosso modelo de ação
social.
Sobre
o governo de instituições universitárias, a grande reforma do sr. Ministro pariu
um rato. Afinal, tanto no Conselho Geral como na eleição do Reitor, cada corpo
(docentes e investigadores, estudantes, pessoal técnico e antigos estudantes) valerá
entre 10 e 50%, numa decisão que caberá a uma assembleia de transição. É um
sacudir de água do capote que não deixa o Governo menos molhado. Afinal, esta
assembleia de transição é composta na sua metade por professores e, além
destes, por mais personalidades externas do que estudantes ou pessoal técnico. Logicamente,
ela tenderá a beneficiar no cálculo eleitoral esses dois grupos maiores,
ilustrando bem uma versão tacanha do ensino superior dominado por docentes ou
por figuras externas que vêm salvar “a honra do convento”. Isto, claro, se não
vier a suceder o pior que é beneficiar o grupo que, localmente, seja mais
instrumentalizável e clientelar. A cobardia do Ministro vai atirar as
instituições para um pé-de-guerra que era dispensável e é lamentável.
Também
no mesmo Conselho de Ministros foram aprovados 42,5
milhões de euros para celebrar acordos com municípios para alargar a oferta
de vagas de educação pré-escolar. O que parece uma boa notícia para as 12.500
famílias a quem falta uma vaga revela uma gestão desastrosa da parte de
Fernando Alexandre. Em abril, o Ministério anunciava apoios para o setor
privado e social abrirem mais de 200 salas de pré-escolar. Todavia, os
concursos só avançaram mesmo em julho. O setor
privado apenas correspondeu com 1200 vagas e quatro salas. O concurso para
setor social, que se havia queixado de
falta de contacto da parte do Ministério, teve de ser prolongado
por duas semanas e ainda não se conhecem os seus resultados. Foi assim que,
a menos de 2 semanas do início do ano letivo, o Governo, sem qualquer
negociação prévia, enviou protocolos
aos municípios para abrirem eles salas de pré-escolar. Resta saber como é
que o iluminado Professor da Universidade do Minho acha que as autarquias
conseguirão cumprir com a contratação pública dos “monoblocos” ou o ajuste de
outros contratos, como limpeza ou refeições, neste curto espaço de tempo. Ou,
então, simplesmente, porque não se lembrou desta solução antes.
Se
estas novidades do Conselho de Ministros passaram despercebidas, e seguramente
muito longe de escrutinadas criticamente, o mesmo não se pode dizer do aumento
das propinas e do fim da acumulação da sua devolução com o IRS Jovem, como
até agora sempre ocorrera. É uma má notícia para os jovens, que se tornam assim
nas primeiras vítimas de um Orçamento
sem margem. A devolução das propinas valia entre 2 e 5 mil euros, para
licenciados e mestres respetivamente. Segundo o Doutor
Finanças, este benefício é mais favorável do que o IRS Jovem para salários até
1.680 e 2.482€, consoante o grau que o jovem tenha concluído.
O
aumento da propina não é um problema para as famílias pelos 13€ que subirão no
próximo ano. Como uma bola de neve, estes aumentos de propina vão-se acumular
ano após ano, até que o seu valor seja incomportável para muitas famílias. Já
nos mestrados, o Governo optou por voltar a deixar as universidades cobrarem o
que quiserem. Anunciar isto no dia em que se apresenta um estudo sobre ação
social no ensino superior é uma piada de mau gosto. Fazê-lo ao mesmo tempo que
se deixa, impunemente, incumprir a Lei n.º
8/2025, de 5 de fevereiro, que alargava à classe média o apoio ao
alojamento é igualmente paradigmático da fragilidade das nossas instituições.
Também
aqui o caminho da AD esfuma-se, como areia entre os dedos. O grande estudo da
ação social conclui sobretudo (para não dizer apenas) pelo alargamento
das bolsas automáticas que a Juventude Socialista aprovou em Orçamentos do
Estado desde 2020. Como já havíamos visto na floresta, na água, na economia ou
na modernização
do Estado, as “grandes reformas” revelam-se minúsculas alterações ao que já
existia e já estava a ser feito. Estes novos pacotes servem para esconder o
resto: os retrocessos e os impasses de um Governo que está a travar o progresso
do país. Já dizia o ditado: com Montenegro, o que é bom não é novo e o que é
novo não é bom. Talvez não haja melhor exemplo disso do que no triste e
fracassado Ministério de Fernando Alexandre.
Por todo o Estado, há sinais de escassez gritante de pessoal. Faltam dois mil guardas prisionais. Já na carreira de enfermaria faltam 20 mil profissionais. A isto poderíamos somar a falta de médicos no SNS.
Governo perdeu tempo a inventar uma alternativa à situação de calamidade, prevista na Lei de Bases da Proteção Civil. Nos apoios à agricultura, impôs um limite de 10 mil euros que, não só é escasso, como é inferior ao que anteriores Governos PS aprovaram. Veremos como é feita a estabilização de solos.
Estou farto que passem por patriotas aqueles que desfazem e desprezam tudo o que fizemos, tudo o que alcançámos e, sobretudo, tudo o que de nos livrámos – a miséria, a ignorância, o colonialismo.
Já sabíamos que vivemos numa era de ciclos mediáticos muito curtos. Isso já era o caso com a televisão e passou a sê-lo mais ainda com as redes sociais. Todavia, estes meios deveriam permitir-nos confrontar os políticos com o que disseram ou propuseram no passado. Como se diz na gíria, "a internet não esquece".
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Num mundo incerto e em permanente mudança, onde a globalização e a tecnologia redefinem o modo de conceber e fazer justiça, as associações e sindicatos de magistrados são mais do que estruturas representativas. São essenciais à vitalidade da democracia.
Só espero que, tal como aconteceu em 2019, os portugueses e as portuguesas punam severamente aqueles e aquelas que, cinicamente e com um total desrespeito pela dor e o sofrimento dos sobreviventes e dos familiares dos falecidos, assumem essas atitudes indignas e repulsivas.